A Culpa é das Estrelas - John Green


Título: A Culpa é das Estrelas
Autor: John Green
Editora: Intrínseca


A culpa é das estrelas narra o romance de dois adolescentes que se conhecem (e se apaixonam) em um Grupo de Apoio para Crianças com Câncer: Hazel, uma jovem de dezesseis anos que sobrevive graças a uma droga revolucionária que detém a metástase em seus pulmões, e Augustus Waters, de dezessete, ex-jogador de basquete que perdeu a perna para o osteosarcoma. Como Hazel, Gus é inteligente, tem ótimo senso de humor e gosta de brincar com os clichês do mundo do câncer - a principal arma dos dois para enfrentar a doença que lentamente drena a vida das pessoas.
Inspirador, corajoso, irreverente e brutal, A culpa é das estrelas é a obra mais ambiciosa e emocionante de John Green, sobre a alegria e a tragédia que é viver e amar.

Meus pensamentos são estrelas que eu não consigo arrumar em constelações.

Ainda impactada por tudo que eu senti depois da leitura de ACEDE, eis-me aqui humildemente tentando escrever algo que chegue aos pés do brilhantismo de John Green. Já aviso logo: a resenha vai ser grande. São tantos post-its que eu me perco pra encontrar o quote que quero.

Esta não é uma história sobre câncer qualquer (se você quer uma assim, leia Nicholas Sparks, não desmerecendo o autor e seus romances). Green supera toda e qualquer expectativa. Eu já tinho lido inúmeras resenhas lindas e emocionadas, mas não imaginei que fosse me tocar tanto! Logo eu que sou difíííííícil de chorar com livro. Mas me enganei, felizmente.

Antes de falar sobre a história, quero falar sobre Hazel, nossa protagonista e narradora. 16 anos, câncer na tireoide que acabou se espalhando pelos pulmões. Eu me identifiquei MUITO com essa personagem, de verdade.

Hazel é irônica, mesmo quando a situação é crítica.

[...] a versão resumida do meu milagre: diagnosticada com câncer de tireoide em estágio IV aos treze anos. (Não contei que o diagnóstico veio três meses depois da minha primeira menstruação. Tipo: Parabéns! Você já é uma mulher. Agora morra.)

Hazel tem dificuldades de respirar (obviamente).

Ai, meu Deus. Deixe eu só dizer para você como é não conseguir respirar? É UM INFERNO. Totalmente decepcionante. Totalmente.

Hazel tem um humor negro.

Não dava para terminar de comer a sobremesa. Meu estômago estava cheio demais. Fiquei com medo de vomitar, na verdade, porque de vez em quando eu vomitava depois de comer. (Nada a ver com bulimia, só câncer.)

E várias outras coisinhas que me fizeram mergulhar no universo de Hazel (tipo a mãe superprotetora, mas que ama TANTO a filha e o fato de ela não ir dormir antes de acabar de ler um livro). Agora que você já entendeu minha quase devoção por Hazel, vamos à história...

Ela estava num estágio muito crítico do câncer, quase partindo dessa pra melhor, quando os médicos testaram uma nova droga que controlou e diminui a doença - o milagre. Mas ela só consegue respirar com auxílio, então anda pra todo lado com seu cilindo de oxigênio num carrinho.
Por pressão da mãe, ela frequenta um grupo de apoio, mas não gosta muito de lá. Isaac é o único do grupo que parece entendê-la - um menino que teve câncer ocular e precisou retirar um olho.

Um dia Isaac leva seu amigo Augustus ao grupo, num período em que seu câncer voltou e ele precisará operar novamente, ficando totalmente cego. Gus também já teve câncer, osteorssacoma pra ser mais precisa (não precisa ser conhecedor de doenças cancerígenas pra sacar que é câncer nos ossos, né? osteo... osteoporose, lembra?). E, por conta disso, Gus precisou arrancar parte de uma das pernas, colocou uma prótese em seu lugar e não apresenta mais indícios de câncer. Ah, ele é alto, bonito, musculoso, inteligente...

Gus também me surpreendeu com suas tiradas geniais de sarcasmo, que eu prefiro chamar de humor inteligente.

- Estamos literalmente no coração de Jesus... Achei que estivéssemos no porão de uma igreja, mas estamos literalmente no coração de Jesus.
- Alguém deveria contar isso para Jesus - falei. - Quero dizer, deve ser perigoso ficar guardando crianças com câncer no coração.
- Eu mesmo poderia contar - o Augustus falou -, mas., para minha infelicidade, estou literalmente no coração Dele, então Ele não vai conseguir me ouvir.
Detalhe: Gus é adepto a metáforas. O maior exemplo é colocar um cigarro na boca sem acendê-lo. "Tipo: você coloca a coisa que mata entre os dentes, mas não dá a ela o poder de completar o serviço."

Gus fica encantado com Hazel (e vice-versa), quer conhecê-la melhor e convida para ir a sua casa assitir a um filme, com a desculpa de que ela se parece com a atriz. Conversa vai, conversa vem e no meio da conversa o assunto 'leitura' vem à tona. Ela fala de seu livro preferido, Uma Aflição Imperial (fictício) e ele promete que lerá; em troca, ela deve ler o livro indicado por ele, uma adaptação de um jogo de video game.

Hazel não lê só o livro indicado, mas também o de continuação. Ele termina a leitura de UAI com a mesma sensação que ela teve: o livro é inacabado, com as respostas ficam soltas... Inconformados com o final da história, resolvem ir em busca das respostas diretamente com o autor, o que envolve e-mails, cartas e até uma viagem.

Hazel e Gus se apaixonam, mas sem aquela melação típica dos casais adolescentes. Os diálogos são recheados de carinho, ironia e inteligência.
- É por isso que gosto de você. Você tem ideia de como é raro encontrar uma gata que use essa versão adjetivada do substantivo pedófilo? Você está tão ocupada sendo você mesmo que não faz ideia de quão absolutamente sem igual você é.
Gostei da forma como Green colocou este romance: apesar do câncer ser uma dificuldade, eles conseguiram superar juntos. Mas isso não torna o livro dramático ou utópico; as partes ruins da doença também são descritas.

Eu fiquei muito tempo tentando entender o porquê do título, lendo as resenhas, vendo os comentários, e essa dúvida permanecia na minha mente. Mas Green explica numa carta de Gus. Que sacada genial do autor com o título!

[...] nunca Shakespeare esteve tão equivocado como quando fez Cássio declarar: "A culpa, meu caro Bruto, não é de nossas estrelas / Mas de nós mesmos."

Senti falta de mais presença de alguns personagens, como a amiga de Hazel, a (ex)namorada de Isaac e até mesmo o pai da protagonista (eu queria ver mais a relação dos dois). Mas isso não diminui nem um pouco minha predileção por ACEDE.

A capa é simples, porém linda. Sabe aquela máxima "menos é mais"? Se aplica perfeitamente aqui.
As páginas fluem sem você perceber, quando você se dá conta, já chegou à metade do livro.

Termino a resenha certa de que não consegui expressar tudo aquilo que eu senti lendo e pensando posteriormente. ACEDE nunca sairá da minha lista de livros pra ler, pois sempre vou querer pegá-lo e me deliciar com os diálogos do meu casal literário preferido.

Às vezes, um livro enche você de um estranho fervor religioso, e você se convence de que esse mundo despedaçado só vai se tornar inteiro de novo a menos que, e até que, todos os seres humanos o leiam.

Só posso dizer uma coisa: LEIAM!


Não sou formada em matemática, mas sei de uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. Tem o 0,1 e o 1,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros. [...] Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Eu queria mais números do que provavelmente vou ter.