Uma Chama Entre as Cinzas - Sabaa Tahir

Título: Uma Chama Entre as Cinzas
Autor(a): Sabaa Tahir
Editora: Verus
Nº de páginas: 432
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Nota:

Laia é uma escrava. Elias é um soldado. Nenhum dos dois é livre. No Império Marcial, a resposta para o desacato é a morte. Aqueles que não dão o próprio sangue pelo imperador arriscam perder as pessoas que amam e tudo que lhes é mais caro. É neste mundo brutal que Laia vive com os avós e o irmão mais velho. Eles não desafiam o Império, pois já viram o que acontece com quem se atreve a isso. Mas, quando o irmão de Laia é preso acusado de traição, ela é forçada a tomar uma atitude. Em troca da ajuda de rebeldes que prometem resgatar seu irmão, ela vai arriscar a própria vida para agir como espiã dentro da academia militar do Império. Ali, Laia conhece Elias, o melhor soldado da academia — e, secretamente, o mais relutante. O que Elias mais quer é se libertar da tirania que vem sendo treinado para aplicar. Logo ele e Laia percebem que a vida de ambos está interligada — e que suas escolhas podem mudar para sempre o destino do próprio Império.

Sinopse simples e direta, não dá spoilers, mostra um pouco do que você pode encontrar, mas não revela nem metade das surpresas que a história esconde. Sei que corro o risco de escrever uma resenha pobrinha, mas prefiro não comentar muito sobre o enredo pra dar a você a chance de, descobrir um pouquinho mais a cada página virada. Mas não resisto a falar dos personagens.

Confesso que temi por Laia a todo momento. Uma garota assombrada por seus medos, a morte dos avós e dos pais ecoando em sua mente, lembrando-a de que está sozinha no mundo. Ela junta a culpa da covardia e o desespero de salvar o irmão para descobrir a fonte de sua pouca coragem. E o sofrimento é fundamental para o seu amadurecimento.

Que voz devo escutar? A da espiã ou a da escrava? A da lutadora ou a da covarde? Achei que as respostas a essas questões seriam fáceis, mas isso foi antes de eu aprender o que é ter medo de verdade.

Já Elias precisa lidar com as perguntas não respondidas sobre sua infância e o relacionamento com a mãe, a comandante, a pessoa mais temida durante o período de preparação, aquela que o abandonou e deseja sua morte. E, por mais que ele tenha sido doutrinado a ser uma máquina de morte, sofre com tamanha violência causada por suas próprias mãos.

A narração intercala as vozes de Laia e Elias, o que nos ajuda a entender os dois lados da mesma moeda. Enquanto ela nos oferece a visão de escrava, de povo oprimido e castigado, ele mostra a realidade da elite, o poder de causar a dor. E, mesmo não concordando, Elias ainda convive com pessoas que têm prazer em machucar, em ser superior. Com esse revezamento, acompanhamos o medo do Império tirano, a revoltas com mortes de inocentes, a tristeza, as dores das chibatadas, a identificação mútua do casal.

- Esta vida não é sempre o que pensamos que será. Você é uma chama entre as cinzas, Elias Veturius. Você vai brilhar e queimar, devastar e destruir. Você não pode mudar isso. Não pode parar.

- Você é cheia, Laia. Cheia de vida e sombras e força e espírito. você está em nossos sonhos. Você vai queimar, pois é uma chama entre as cinzas.

Mesmo com protagonistas que me cativaram, aqui o destaque vai pra Keris Veturia, a Comandante, mãe de Elias. Aquele tipo de vilã que você odeia odiar, que ganha o selinho Dolores Umbridge de maldade. E, na hora em que você pensa que ela terá sua redenção, se surpreende com tamanha frieza, arrogância e crueldade em seu coração

Não gosto de fantasia, mas esse livro tem uma pontinha sobrenatural que se encaixou tão bem à história que nem me incomodou. Só fiquei um pouco perdida no começo das explicações, mas depois deu pra pegar a ideia e assimilá-la à cena. Só não me peça pra dizer quais eram as criaturas e o que elas faziam. rs

Tem romance, muito de leve, nem um pouco meloso, mas essencial pro desenvolvimento da trama. O sentimento direciona e justifica algumas atitudes - boas e ruins - dos personagens. Não espere amor à primeira vista, declarações românticas e sei lá mais o que. Prepare-se pra 2 triângulos, mas nenhuma fofura.

Laia é a dança selvagem de uma fogueira tribal, enquanto Helene é o azul frio da chama de um alquimista. Mas por que estou comparando as duas?

Há uma liberdade animal no modo como Elias se move, um caos controlado que faz o ar à sua volta se inflamar. Tão diferente de Keenan, com sua solenidade contida e seu frio interesse. Mas por que você está comparando os dois?

Não vou ser hipócrita e dizer que amei a capa. Pra mim ela é neutra e passou totalmente batida, junto com o título. Só depois que li 3 resenhas, todas 5 estrelas, fui convencida a dar uma chance e decidi ler. E confesso que já comecei predisposta a gostar, o que não foi muito difícil, já que as primeiras páginas me prenderam.

Os capítulos são curtos e te exigem continuar a leitura. No "só mais um", rapidinho avancei. A escrita da Sabaa é bem ágil, não fica muita enrolação descrevendo uma única cena em trocentas páginas. E, quando chega aquela parte tensa, o capítulo termina com um final suspenso; aí você quer saber o que aconteceu depois, mas entra a narração do outro protagonista, você "esquece" a tensão, se envolve no novo drama, fica tenso de novo... pro capítulo acabar, e você lembrar que estava ansioso pela continuação anterior. É um ciclo vicioso!

Segunda leitura do ano e também foi boa. 2016, seu lindo, pode continuar assim nos outros 360 e poucos dias, ok?