Eu estou aqui - Clélie Avit


Gosto de uma boa história romântica, e este livro apresenta uma premissa bem inusitada: um romance que nasce entre um homem e uma mulher, sendo que ela está em coma. Quando li a sinopse achei meio estranho/curioso (pelo menos para mim) e quis ler exatamente por isso.

Elsa Bilier tem vinte e nove anos, é solteira e gosta de se aventurar praticando montanhismo. Como consequência do acidente que sofreu quando estava escalando uma geleira com seu amigo Steve, ela está em coma no hospital há 5 meses.

Além dos médicos, enfermeiros e faxineiros do hospital, que passam pelo quarto com certa frequência, Elsa recebe a visita pontual dos seus pais, da irmã e dos seus amigos mais chegados. Há seis semanas ela “acordou”. Apesar de imóvel, ela está consciente e consegue apenas ouvir. É através desse único sentido ativo que Elsa é capaz de entender o que acontece ao seu redor, é seu modo de traduzir o mundo e as pessoas. O problema é que ninguém, além dela, percebeu isso.

Eu poderia despertar, provar a eles que estão errados. Afinal, ninguém imagina que eu posso ouvir, e vejam só, é isso o que está acontecendo. Se eu pudesse abrir os olhos ou dar um sinal de atividade qualquer...

No hospital, a rotina de Elsa é sempre a mesma até que um dia entra em seu quarto alguém, ou melhor, uma voz que ela desconhecia. Trata-se de Thibault, um homem de 34 anos que entrou lá por engano, após mais um desentendimento familiar por se negar a visitar seu irmão, que também está internado naquele hospital.

Estou tensa. Ou, pelo menos, me agrada imaginar que estou. Todas as partes ainda ativas em mim, a saber, apenas minha audição, estão debruçadas sobre essa novidade como se estivessem debruçadas sobre um bote salva-vidas. Então, escuto, escuto, escuto. E pouco a pouco, começo a desenhar em minha cabeça.

Thibault diz odiar a Sylvain, seu irmão mais novo, porque, ao dirigir embriagado, o mesmo provocou um acidente que culminou na morte de duas adolescentes de quatorze anos. Desde então, Thibault não consegue perdoá-lo, nem mesmo visitá-lo.

Faz um mês que repito o mesmo papo para todo mundo, e meu primo ainda acha que digo isso por apreensão. Não estou mais apreensivo. Estava no começo, quando ligaram do hospital, quando minha mãe desmaiou no piso da cozinha, quando corríamos no carro velho de meu primo acima de todos os limites de velocidade. Estive apreensivo até o momento que vi um policial na porta do quarto de meu irmão no hospital. A partir daquele momento, só tive raiva.

Ao entrar no quarto de Elsa, Thibault percebe que não é uma saída de emergência como ele imaginava. Também não se dá conta, de imediato, de que se trata de uma mulher deitada naquele leito e muito menos que ela não está apenas dormindo. Aos poucos vai se aproximando, sobretudo curioso pelo cheiro de jasmim que exala no ambiente. Ao ver o prontuário da paciente, ele descobre seu nome, seu grave estado de saúde, a causa do seu acidente e também que naquele dia era seu aniversário. Além de tudo isso, naquele quarto de hospital ele encontra paz...


O desenrolar do romance entre os protagonistas se dá a partir desse primeiro “encontro”. As visitas de Thibault a Elsa ficam cada vez mais frequentes e necessárias para os dois. Com o passar do tempo (dez dias para ser mais precisa...) ele entende e admite que está mesmo apaixonado por ela, uma mulher que ele nem ao menos sabe se um dia irá acordar e que ele nem conhece de verdade. Porém Thibault tem esperança, acredita que aquela mulher o escuta e que ele pode ajudá-la a despertar, o que ele não sabe é que os pais de Elsa precisam tomar uma importante decisão: desligar ou não os aparelhos que a mantém viva.

Todos acham que não tenho mais cura.
Até meus pais estão desistindo de mim [...]

Então, além do romance (até agora não sei se posso chamar assim esta “relação”), o estado de Elsa com sua sensação de vazio por não poder sentir ou expressar absolutamente nada, a difícil decisão que seus pais precisam tomar quanto ao desligamento ou não dos seus aparelhos, o drama familiar que Thibault enfrenta ao não liberar perdão para seu irmão e como isso o deixa mal e interfere na sua relação com sua mãe são conflitos presentes neste enredo e que terão seus devidos desfechos, alguns bem tristes.

Apesar de abordar temas controversos, a autora consegue narrar tudo com muita delicadeza. Sua narrativa me ganhou já no primeiro capítulo, porém, ao longo do livro, senti a história ficando um pouco monótona, mas não ao ponto de fazer com que o leitor abandone a leitura.

Confesso que o tempo todo fiquei me questionando se o surgimento desse amor, que se estabeleceu em tão pouco tempo e nas circunstâncias já apresentadas, não era forçar demais a barra. Até agora estou pensando a respeito... Apesar desses aspectos (que são bem pessoais), a história foi bem escrita, com personagens bem apresentados e discussões relevantes. A narração dos 26 capítulos é sempre em primeira pessoa e intercalada entre os protagonistas.

Quanto à capa, eu particularmente não gostei, me causou certa estranheza, porém ela tem tudo a ver com a história, e isso é um ponto positivo. O título é impresso em relevo, e as cores utilizadas são mais sóbrias. O livro é impresso todo em papel pólen e a diagramação está okay: capítulos curtos, letras grandes e com espaçamento adequado, o que colaborou para deixar a leitura confortável.

Eu estou aqui é um bom livro e o indico, embora não tenha sido para mim aquele romance que deixa a gente sem fôlego, suspirando em cada final de capítulo. A trajetória individual dos protagonistas, com suas inquietações e dramas familiares me envolveram mais do que a promessa desse romance. Depois me digam o que vocês acharam, caso vocês desejem ler também. Boa leitura para todo mundo!


Eu estou aqui - Clélie Avit
Fábrica 231
288 páginas
Livro cedido pela editora
Onde comprar: Americanas | Saraiva | Amazon

3 comentários

  1. Oi,achei a capa do livro bem expressiva.
    O rosto da modelo mostra toda a angústia da personagem.

    E que história!!!!!!

    Fiquei curiosa em conhecer essa trama, assim como também sobre o desfecho dos personagens. ;)

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  2. Esta é a segunda resenha do livro que leio e amei demais. Achei uma história tão diferente e tocante.
    A capa é bonita e da um ar de emoção, sabe.
    Quero muito ler, acho que vou amar!
    Apesar de ter ficado com medo por você dizer que teve alguns desfechos triste. Huuum, vai ter mortes? Odeio livros com mortes dos personagens principais kkkk
    bjoss

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  3. Olá Cristiana,
    Realmente, é uma sinopse que desperta a curiosidade em qualquer leitor. Gostei do enredo desse livro, é um romance bem inusitado mesmo, e apesar de ser meio estranho de inicio, acredito que propicie uma leitura bem envolvente. Além de amar um bom romance, o que sempre me fisga em livros assim são os dramas familiares. Adoro quando o livro é narrado intercalando o ponto de vista dos protagonistas. Vou anotar para ler mais pra frente, obrigada pela dica!
    Beijos

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