Nós dois - Andy Jones

Em Nós dois, podemos conhecer a história de amor vivida pelo diretor de vídeos publicitários, Fisher, e a cabeleireira e maquiadora profissional, Ivy. Ambos moram em Londres e trabalham como freelancers em produtoras de comerciais e filmes.

Fisher e Ivy se conhecem profissionalmente há pouco mais de um mês, mas estão no início de um intenso romance há dezenove dias. Mesmo se conhecendo ainda tão pouco, é o suficiente para que tenham certeza de que estão apaixonados um pelo outro e que desejam permanecer juntos.

Durante nossos quatro primeiros dias juntos, não saímos do apartamento dela. Ninguém disse nada, mas a sensação foi de que havíamos chegado a um acordo psíquico e só nos aventuraríamos na rua quando fosse inevitável. Porque ela e eu entendemos (e entendemos que o outro também entendeu) que, depois que a bolha estoura, não há como voltar à estúpida e íntima cumplicidade dos Primeiros Dias.

Nessa euforia dos primeiros dias, resolvem pegar a estrada e aproveitar cada vez mais a companhia um do outro. Viajam por várias cidades e incluem no roteiro uma visita à família de Fisher, que os recebe cheia de expectativas. O encontro familiar foi agradável, apesar daqueles velhos constrangimentos dos álbuns de família e das perguntas/comentários desnecessários (quem nunca? Hahaha...). No mesmo dia em que chegaram ao destino, Ivy muda seu comportamento deixando Fisher apreensivo. No dia seguinte, voltam a Londres e aí começam alguns percalços...

A gente... a gente precisa conversar – declara, e nesse momento alguém corta as cordas que mantêm meu coração suspenso atrás das costelas. Ele cai em queda livre e para num lugar bem na altura do meu umbigo, onde pesa como uma pedra.

“Se apaixonar é fácil. Difícil é o que vem depois”, representa muito bem a premissa desse romance. Em virtude da reviravolta que algumas mudanças vão provocar na vida do casal protagonista, fica claro que para permanecerem juntos é preciso mais do que a paixão que os levou até aquele ponto. Eles experimentam emoções distintas promovidas pelo cotidiano de uma vida a dois. Ao longo da história passam por provas nada fáceis de superar.

Diferentes em maturidade, experiências de vida e temperamento, Fisher e Ivy precisam lidar com essas diferenças no dia a dia para consolidar essa relação precoce e fazê-la valer a pena. Construir um relacionamento permeado pelo companheirismo e respeito é uma tarefa que requer esforço e compreensão de ambas as partes. Erros e acertos fazem parte desse processo e do necessário amadurecimento que, como casal, eles precisam conquistar.

Meu pai descreveu o amor como o sentimento de correr o mais rápido possível. Eu me senti assim com Ivy quando nos conhecemos e nas duas semanas seguintes. Mas, para ser franco comigo mesmo, nos últimos tempos a sensação é mais de que estou tropeçando nas minhas próprias pernas e a qualquer momento vou enfiar a cara no chão.

Além do romance que envolve os protagonistas, há também a história de El, melhor amigo de Fisher, e seu companheiro Phil. El está em fase terminal do mal de Huntington, com seu corpo bastante debilitado, sua fala e sua memória totalmente comprometidas. Não há mais o que se possa fazer para salvá-lo. Ambos enfrentam juntos este momento e Fisher acompanha de perto esse final da vida do grande amigo e da sua relação com Phil.

Tanto os personagens principais quanto os secundários contribuem para que o relacionamento, como um processo permeado por altos e baixos, escolhas e decisões difíceis e um exercício de tolerância constante, seja o mote principal desta trama.

Eu e Ivy estamos discutindo com mais frequência e, parece, mais irritação. Na maioria das vezes a gota d’água é uma bobagem, e não consigo concluir se isso diminui ou intensifica a questão. Tudo está fora de sequência [...].

Toda a história é narrada em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Fisher. Ele é completamente apaixonado por Ivy e sempre exalta sua beleza, inteligência e bom humor. Neste terceiro ponto eu discordo do narrador-personagem, pois não foi minha impressão. Quanto mais ele a elogiava, menos me convencia. Para mim é notável que Ivy tem o controle da relação e Fisher quer agradá-la, e em várias situações ela era indiferente ao seu esforço e o tratava com rispidez. Essas passagens da história me levavam a duvidar se havia reciprocidade nessa relação.

À medida que fui avançando na leitura, tentei me colocar no lugar da personagem e das circunstâncias que ela estava enfrentando para, assim, desconstruir essa percepção e lançar um olhar mais generoso para as suas atitudes. Foi feito um esforço da minha parte para compreendê-la, mas ela é mesmo chata, não avancei muito em alguns aspectos.

Em se tratando de Fisher, ele me agradou um pouco mais, embora eu reconheça que algumas de suas posturas são meio tolas. Ele aceitava a rispidez de Ivy, talvez por medo de perdê-la, e até a justificava. Quando expunha alguma reação, logo se arrependia, e no fim era ele quem sempre pedia desculpas. Bom, alguém tem que ceder, não é mesmo? No geral, não me apaixonei por nenhum dos dois protagonistas, mas Fisher ainda me agradou um pouco mais, a narração dele me rendeu até boas risadas.

Quanto à capa, ela é bem simples e tem ligação com determinado momento da história. Eu gostei e achei graciosa. A obra é dividida em quarenta capítulos, um prólogo e um epílogo, apenas identificados pelo número. O tipo e o tamanho da fonte, além do espaçamento entre as linhas, estão adequados e favorecem uma leitura fluida. No livro inteiro identifiquei apenas dois ou três erros de digitação.

No geral, considero este um bom livro. Em nenhum momento senti vontade de desistir e abandonar a leitura. Gosto de histórias românticas, e esta obra traz o diferencial de tratar a vida e o amor de um jeito mais próximo do real. O autor aborda o tema de maneira muito franca em sua narrativa. Este romance nos permite entrar em contato com esse território de contradições, que são os sentimentos e as relações amorosas, de um jeito leve e descontraído. Para mim valeu a pena!

Nós dois - Andy Jones
Suma de Letras
268 páginas
Livro cedido pela editora
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