Machu Picchu - Tony Belloto


Título: Machu Picchu
Autor: Toni Bellotto
Editora: Companhia das Letras


O Rio de Janeiro vive o maior congestionamento de sua história. Em meio às filas intermináveis de carros, Zé Roberto e Chica, cada qual num canto da cidade, tentam voltar para casa, onde vão comemorar seus dezoito anos de casamento. É a oportunidade perfeita para ambos repassarem os últimos meses de suas vidas. Para Zé Roberto, isso significa pensar em W19, a garota que conheceu no Facebook e com quem vem praticando sexo virtual há algum tempo. Sem nunca tê-la encontrado pessoalmente, ele nutre uma saudável obsessão pela menina, com quem agora quer se encontrar. Chica não é muito afeita às redes sociais, de modo que seu caso com Helinho, colega de trabalho, se dá entre lençóis e não por uma câmera de computador. Mas ela está confortável: em casa, o marido que ama, a família e a vida que escolheu; no escritório, o amante divertido e bom de cama, que pode ou não estar apaixonado por ela. Junte a isso um filho maconheiro, uma ex-mulher psicótica, uma filha ausente e meio perdida e uma afilhada misteriosa. Essas são as peças de que Tony Bellotto precisa para armar uma comédia de costumes incomum e perfeita para os nossos tempos. Seguindo a trilha de seus últimos romances, Bellotto cria um divertido painel da nova família brasileira, desconjuntada e esquizofrênica como costumam ser as melhores famílias. Com seu tabuleiro montado, o autor transforma o jantar de aniversário de casamento num acerto de contas cômico e frenético, um grande teatro do absurdo, tão surpreendente quanto próximo de todos nós.

Fala galera! Cá estou aqui de novo para dá meu pitacos nas obras alheias. Sempre meio perdendo, mas me encontrando no fim. Equilibrando os pontos negativos e positivos dos obras "na berlinda", quero dizer, resenhadas. Mas procurando ser sincero.Vamos ao que interessa!

Tony Belloto é músico, conhecido membro da banda "Titãs", casado com a atriz Malu Mader, mas pra quem não sabe também escritor. A maioria de seus livros são do gênero policial. "Machu Picchu" é seu mais recente título, que foge deste gênero, se encaixando na chamada "comédia de costumes". O livro chegou a minha estante na Bienal do Livro deste ano, depois de assistir uma palestra com o escritor.


Depois desta pequena introdução, vamos ao romance em questão.

Com acidez e ironia, Tony nos apresenta uma família carioca, mas especificamente da zona sul, e absurdamente atual. Um retrato da decadente classe média, com suas frustrações e problemas, mas antes de tudo comum a maioria de nós.

Ambientado no "maior engarrafamento da história", temos neste pano de fundo a crítica que o autor começa a construir. Narrado em primeira pessoa, neste momento inicial, pelo os principais membros da família protagonista, temos em alternância Chica, a mãe, Zé Roberto, o pai, e Rodrigo, o filho. Onde cada um vai apresentando suas opiniões e visões em um começo mais intimista. Aos poucos, Chica e Zé Roberto vão explicando seus casos extraconjugais e Rodrigo sua típica vida adolescência.

O autor vai montando o novelo que se desenrola apenas na segunda parte, esta em terceira pessoa. Onde chegamos ao embate de todos os acontecimentos tratados no início. Uma confusão que beira o absurdo, mas que cumpre sua função e joga o romance no seu ápice, divertindo bastante. Apesar da saída clichê, tudo é bem usado e coerente ao apresentado. O que nos leva a terceira parte, onde retorna a narrativa em primeira pessoa e Zé Roberto nos conta os desfechos dos personagens.

Ouvi algumas opiniões criticando o excesso de algumas citações sexuais, a crítica a falência da instituição família e alguns outros "exageros". Mas eu não compartilho destas opiniões. Acho a crítica que envolve a trama coerente e me agrada mais ainda ela ser usada atrás de uma ótima comicidade. Sem perder o que importa num bom livro, uma história envolvente, personagens carismáticos e identificáveis. Faltando apenas uma narrativa mais elaborada e menos crua, que apesar de incomodar não atrapalha o ritmo.

"Machu Picchu" termina sendo um romance bem encaixado aos dias atuais, onde Tony trabalha o absurdo e o comum lado a lado, o que é muito acertado. Afinal, a dita "normalidade" é uma mentira. Com acidez, humor e crítica, temos um título que me embalou, fazendo rir e pensar, do que jeito que curto. Uma leitura fluída e dinâmica, que recomendo pra quem se identificar com o que foi dito aqui.

PS: Ah, já ia me esquecendo! Está se perguntando sobre o título? O que ele tem a ver com a história? Não sou eu que vou falar, quando você chegar a exata última frase você descobrirá a genialidade por trás dele. ;)

Brigado pela leitura e até a próxima!