Vou lhe mostrar o medo - Nikolaj Frobenius


Título: Vou lhe mostrar o medo
Autora: Nikolaj Frobenius
Editora: Geração


Edgar Allan Poe (1809-1849), o célebre poeta e autor de histórias de terror, bem como criador do gênero policial na literatura, é o protagonista deste romance de suspense psicológico, que discute os limites da criação literária e a responsabilidade moral da arte. Nele vemos o jovem escritor norte-americano afligido pela pobreza, angustiado com a enfermidade da sua frágil esposa e assombrado por um maníaco que comete assassinatos inspirados nos seus escritos, além de sabotado em sua carreira pelo crítico literário Griswold, que lhe dedica um misto de admiração e ódio. Publicado em toda a Europa, traduzido em dez idiomas e plagiado por Hollywood, este romance premiado marca a estreia, no Brasil, de Nikolaj Frobenius, um dos grandes expoentes da moderna literatura norueguesa.

Sim, eu confesso: sou medrosa! E por isso não pude sequer chegar perto desse livro. Então pedi à minha amiga Mila Wander (mais conhecida como autora de Despedida de Solteira) para ler e resenhar pra mim. Com vocês... Mila Wander resenhista. :D


“Vou lhe mostrar o medo”, do autor norueguês Nikolaj Frobenius, narra a trajetória do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Confesso que nunca tinha ouvido falar nele, portanto fiquei surpresa e admirada com a sua inteligência, criatividade e desenvoltura na escrita. Às vezes achava ele um pouco arrogante, mas, com o tempo, fui ficando com tanta pena do homem que acabei por gostar do seu jeito introspectivo.

Deve existir aqui ou acolá alguém que saiba me apreciar pela minha capacidade.

Fiquei encantada com alguns contos de sua autoria, que foram devidamente descritos no livro. São contos meio sombrios, diria até mesmo pessimistas, porém, como o próprio Poe acreditava, existe certa beleza na obscuridade. Demorei um pouco, mas consegui encontrar a beleza da qual falava; seus trechos marcantes foram capazes de aguçar a minha curiosidade e trazer reflexões.

O medo está constantemente emparedado dentro de nós, ele pensaria anos depois. Durante o dia procuramos dissimulá-lo, mas à noite os nossos pensamentos tomam o poder. Tudo o que fazemos é governado pelo medo ou pelo desejo de nos livrarmos dele.

Creio que Poe preferia encontrar a beleza no mistério, na morte e nos infortúnios da vida, até porque sua própria vida nunca foi fácil. Fica claro para o leitor que a trajetória de Poe foi composta por uma série de desventuras, desde a sua infância. O fato de ter tentado durante toda a sua vida uma carreira de escritor célebre – e jamais ter conseguido tal feito, mesmo possuindo habilidade para tal – chega a ser triste.

O mistério principal nos é apresentado quando assassinatos similares aos descritos nos contos de Poe começam a surgir. O escritor começa a ser perseguido não apenas pelo autor dos assassinatos, mas pelo seu maior rival, Rufus Griswold. O Rufus foi um cara tão perturbado quanto o Poe. Seu desejo de afundar o inimigo, em minha opinião, não passou de pura inveja e admiração profunda aos textos dele. Como se tratavam de textos obscuros, e Rufus era um pastor, ele mesmo se lamentava por gostar tanto deles, a ponto de decorá-los.

Enquanto o mistério das mortes não é resolvido, surge uma reflexão muito pertinente sobre a responsabilidade que o autor precisa ter por aquilo que escreve. Também sobre liberdade de expressão e o fato do escritor ter ou não que descrever apenas coisas belas.

Não era dever do escritor tratar de assuntos apropriados para armar moralmente o leitor contra as tentações do mundo?

O que achei bacana também foi poder acompanhar um pouco do que era a cidade de Nova Iorque no século XIX. Os costumes, o cotidiano e o cenário social foram muito bem descritos. Também temos uma noção do que era o mercado literário na época e, pasmem, não achei tão diferente assim do atual. Autores tentando buscar espaço, editores selecionando rigidamente, um pequeno boato podia destruir a carreira de alguém... É meio deprimente, mas o mundo dos escritos mudou muito pouco.

A obra contém uma leitura densa, profunda e muito misteriosa. A narrativa, por sua vez, é fluida. O rebuscamento da linguagem não é um empecilho e nem se torna uma chateação, muito pelo contrário, é uma escrita bela que deve ser apreciada por qualquer leitor. Não classifico a obra como sendo um suspense ou terror, mas com certeza a trajetória de Poe me deixou arrepiada em diversas situações. Os infortúnios e o desenrolar dos acontecimentos às vezes causava espanto, talvez por parecerem fantasiosos demais, difícil até de acreditar que pudessem acontecer com uma pessoa só.

Vou lhes mostrar como o mundo deles vai terminar. Vou lhes mostrar o medo.

Recomendo o livro para quem gostar de belas doses de mistério e boas reflexões sobre a morte, os infortúnios e, principalmente, o medo.