O livro selvagem - Juan Villoro

- Os livros são espelhos indiscretos e arriscados: fazem com que as ideias mais originais saiam da sua cabeça e trazem à tona outras novas, que você nem sabia que tinha.
Livros com temas juvenis parecem agradar a maior parte dos leitores, pelo menos esta é a minha impressão. Ainda mais quando se trata de um livro que fala sobre livros ou, mais precisamente, sobre o encanto que é o ato de ler e viver em mundos imaginários e cheios de possibilidades, que pode se aproximar ou não na realidade. Este é um livro que tem um pouco disso. A escolha da leitura se deu justamente porque essa é uma história que traz o universo da leitura como mote principal e isso me interessou logo de cara.Outro ponto de interesse se deu porque “O livro selvagem” faz parte do acervo da biblioteca das escolas públicas, já que foi distribuído pelo Ministério da Educação no âmbito do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), aí a professora aqui fica logo curiosa pra saber do que se trata. Enfim, li e vamos logo aos fatos: não curtir tanto como achei que iria. Mas vamos conversar melhor!
O enredo escrito por Juan Villoro traz a história de um garoto de 13 anos chamado Juan. Ele vive com seus pais e com Carmen, sua irmã mais nova. Juan está vivendo o drama familiar de acompanhar o processo doloroso da separação dos pais. Vê sua mãe triste e ansiosa e também o seu pai partir para trabalhar em Paris e reconstruir a vida com outra pessoa. A separação, a distância do pai e a ansiedade da mãe levam Juan a sentir-se responsável por cuidar dela e de sua irmã.

As férias das crianças se aproximam e a mãe de Juan resolve que precisa encontrar um lugar para deixar os irmãos. Carmen irá ficar com a família de uma amiga bem próxima, já Juan, ainda que a contragosto, irá passar um tempo com o tio Tito, um senhor esquisitão e solitário que vive rodeado de livros e gatos. É a partir da ida de Juan para a casa do tio que começa o que podemos chamar de sua “aventura literária”.  Ao chegar à casa do tio Tito, o menino Juan se depara com uma casa imensa, repleta de livros e mistérios. Um verdadeiro labirinto! Tito é um leitor solitário, que preferiu fugir da realidade e entrar de cabeça no mundo da leitura. Ele faz algumas revelações a Juan, o ensina sobre o mundo dos livros e o convoca para uma missão: encontrar O LIVRO SELVAGEM naquela biblioteca-casa. Este não é exatamente um livro para ser encontrado, mas se faz necessária uma verdade caçada para conseguir pôr as mãos nesse exemplar tão intrigante, um livro que, até aquele momento, não se deixou ser lido. 

Sim, você leu direito. Na casa do tio Tito, Juan aprende que não somos nós apenas que escolhemos os livros que queremos, mas que os livros também escolhem seus leitores. Eles desejam ser encontrados por este ou aquele leitor. Mais do que isso, as histórias podem se modificar, de leitor para leitor, tanto que Juan vive essa experiência ao compartilhar leituras com Catalina, uma garota por quem ele se apaixona e que o ajuda na sua missão.
- Há duas maneiras de um livro chegar até você: a normal e a secreta. A normal é aquela em que você o compra, ou alguém lhe empresta. Já a secreta é muito mais importante: nesse caso, é o livro que escolhe o seu leitor. Às vezes, as duas maneiras se confundem. 
Assim que Juan começa a compartilhar a série “As aventuras no rio em forma de coração” com Catalina ele percebe que ela, com sua leitura, pode tornar as histórias ainda mais legais. Ele entende que, assim como ele, ela também é uma leitora especial. Além disso, Catalina é uma garota muito esperta e, juntos, vão viver experiências fantásticas na biblioteca e desvendar alguns segredos importantes para tentar encontrar o tão desejado livro.
- Há pessoas que acham que entendem um livro só porque sabem ler. Eu já disse que os livros são como espelhos: cada pessoa encontra neles aquilo que está em sua própria mente. O problema é que você só descobre que existe isso dentro de você quando lê o livro certo. 
Bom, esse é basicamente o enredo do livro. Ele começa aproximando o leitor da vida de Juan e dos problemas familiares que ele vem enfrentando e, logo em seguida, o protagonista é inserido nessa trama fantástica em que busca desvendar o mistério do Livro Selvagem e poder descobrir finalmente qual o seu conteúdo. Esse contexto também o aproxima do tio, da história da sua família e o ajuda de algum modo a enfrentar o problema familiar que o levou até aquele lugar.  Falando na crise familiar enfrentada pelo garoto, acho que este tema poderia ser mais e melhor explorado no livro, embora eu tenha consciência de que este não é o foco principal da história. No entanto, é um ponto importante na história do personagem e que poderia ser colocado como pano de fundo no sentido de mostrar com mais clareza como a leitura e essa experiência o levou a enfrentar seus conflitos internos.

Essa é uma história com poucos personagens, o livro inteiro foca no protagonista, nas trapalhadas e devaneios filosóficos do tio Tito e em Catalina, que em certo ponto parece se tornar tão importante para história quanto o próprio Juan. Além desses personagens principais, há Eufrosia, governanta da casa do tio, os pais de Juan e sua irmã Carmen, que na verdade são pouco explorados. Os personagens de modo geral são legais e eu gostei bastante do ranzinza do tio Tito. Achei Juan um garotinho bem esperto e, apesar de ter curtido mais ele no início, é um bom protagonista.

O livro é curto, com 186 páginas e 21 capítulos. Os capítulos são curtos, a diagramação e o papel pólen possibilitam uma leitura confortável. Quanto à capa achei que ela chama a atenção, mas não é necessariamente bonita. É diferente e tem relação com a história. O livro é narrado em primeira pessoa. No entanto, Juan narra sobre o seu passado, ou seja, um adulto que deseja compartilhar a experiência que marcou sua vida aos 13 anos, logo se trata das memórias do protagonista. Não sei se pode gerar dúvida, mas esta não é uma biografia, apesar de personagem e autor terem o mesmo nome.

A escrita do autor é descontraída e acessível, ponto importante pensando no público-alvo. A história carrega certa ingenuidade, mas em certo ponto achei que estava ficando boba demais. Deixo claro que em nenhum momento desconsidero que este é um livro com público-alvo específico e eu sou uma mulher adulta lendo um livro para meninos e meninas no início da adolescência. Este fato não costuma atrapalhar minha avaliação.

Amo literatura infantil/infanto-juvenil e reconheço quando um livro me agrada, independente de não fazer parte do público para o qual a leitura é destinada. Infelizmente, esse não foi o que aconteceu com “O livro Selvagem”. Não sei se foi o meu momento, de repente posso tentar uma releitura depois. Mas ele não me cativou tanto. No início me empolguei, mas depois a leitura foi deixando de fluir como eu gostaria. É como eu disse, senti falta de explorar outras tramas.

Não posso dizer que este é um livro ruim. A obra de Juan Villoro está longe disso. Como já mencionei, o livro tem suas qualidades, traz algumas passagens legais e o final até me cativou. Na verdade, achei que traz uma mensagem bacana não só para os adolescentes, mas para todo e qualquer leitor. Apesar disso, acho que o tio Tito diria que este livro não me escolheu. Pelo menos não agora. E aí, vão dar uma chance para as desventuras literárias do garoto Juan e seu tio esquisitinho? Se sim, então boa leitura, pessoal!
- A mente é uma máquina de pensar. O mais importante não é forrá-la de dados, mas sim aprender a usá-la. Cada cabeça é máquina diferente, então cada pessoa precisa usar seu próprio método para pensar.

O livro selvagem - Juan Villoro
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188 páginas
Livro cedido pela editora
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6 comentários

  1. Olá, o livro é perfeito para aqueles que ainda não mergulharam de começa no universo literário, com uma trama simples e encantadora é impossível não gostar. Beijos.

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  2. Não conhecia a obra ainda e achei super interessante a premissa do livro, de retratar o universo da leitura.
    Bacana esse esquema de o livro escolher o leitor também, fiquei curiosa pra conhecer as aventuras de Tito.
    Apesar de alguns pontos negativos, fiquei interessada.
    Curto bastante livros do gênero!
    Beijos,
    Caroline Garcia

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  3. Cristiana!
    Gosto também dos livros infantos juvenis, porque geralmente tem muita aventura e são descomplicados, mas pelo jeito, esse não é tão envolvente como pensei.
    Fico feliz em ver um livro que fala sobre livros e gostei do pensamento do tio, porque é uma verdade, muitas vezes é o livro que nos escolhe para leitura.
    E fiquei ainda mais feliz em ver que é um livro que tem acesso público, porque pode interessar aos adolescentes.
    “Não basta saber, é preferível saber aplicar. Não é o bastante querer, é preciso saber querer.” (Johann Goethe)
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Cristiana, ainda não conhecia o livro, porém o achei bem interessante. O modo em que o Juan e a Catalina embarcaram nesse universo mágico é muito incrível, e eu concordo sobre que os livros também escolhem seus leitores, eu li um que consegui retirar tantas mensagens dele que cheguei a me emocionar, já minha amiga leu e o odiou.
    E toda essa história do tio, pensei que era um pretexto para o garoto se sentir aliviado desses problemas familiares e embarcar em uma aventura divertida.

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  5. Oi, Cristiana!!
    Adorei conhecer a história de Juan!! O livro parece ser muito interessante e também bem curtinho!! Também curto ler livros infanto juvenis por causa das aventuras encontradas em cada página!! Enfim, gostei muito da indicação!!
    Beijooss

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  6. Olá,

    Eu acho que iria me identificar bastante com o protagonista, visto que enfrentamos situações parecidas quando eu tinha + ou - a idade dele. Mesmo você apontado as coisas que te fizeram não curti tanto a leitura, eu fiquei curiosa para conhecer mais sobre a história, quem sabe eu não tenha uma opinião diferente da sua né.

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