Para educar crianças feministas - Chimamanda Ngozi Adichie

Resenha Livro Para educar crianças feministas

MARAVILHOSA! Não tem outra palavra pra definir Chimamanda. Minha história com ela é antiga, e agora me falta ler os seus 2 romances já publicados. Mas hoje é dia de falar dessa cartilha linda.

Uma amiga pediu a Chimamanda dicas de como criar a filha "feministamente" pra ela se tornar feminista também, então ela lhe escreveu uma carta com 15 sugestões bem práticas. Esse livreto é uma adaptação da carta, com um foco mais em pais de meninas - por conta da filha da amiga -, mas igualmente aplicável para criação de meninos.

Para mim, o feminismo é sempre uma questão de contexto. Não tenho nenhuma regra. A coisa mais próxima disso são minhas duas "Ferramentas Feministas", que vou dividir com você como ponto de partida.
A primeira é a nossa premissa, a convicção firme e inabalável da qual partimos. Que premissa é essa? Nossa premissa feminista é: eu tenho valor. Eu tenho igualmente valor. Não "se". Não "enquanto". Eu tenho igualmente valor. E ponto final.
A segunda ferramente é uma pergunta: a gente pode inverter X e ter os mesmos resultados?

Assim como a autora na época em que escreveu, não tenho filhos. Hoje ela já tem uma menina e diz que tenta seguir as próprias sugestões, afinal sabemos que a expectativa é bem diferente da maternidade real. Fato é que tem que haver uma predisposição, uma vontade em criar os filhos diferente, e esse pode ser um bom começo.

Com sugestões como "Seja uma pessoa completa", "Ensine-lhe o gosto pelos livros" "Ensine-lhe a não se preocupar em agradar, e sim a ser honesta", "Dê-lhe um senso de identidade", "Esteja atenta às atividades e aparência dela" e "Ensine-lhe sobre a diferença", Chimamanda sugere ações para ser postas em prática ao mesmo tempo que pincela a teoria do feminismo. Nada maçante, pelo contrário, muito fácil de compreender e aparentemente simples de aplicar.

Resenha Livro Para educar crianças feministas

Como sempre ouvi que o casal deve conversar antes de engravidar, pra já fazer alguns acertos e acordos, creio que a leitura é importante não só pra quem já tem filhos. Aliás, mesmo não sendo mãe, convivo com outras crianças e me pego reproduzindo machismos que estão enraizados, repetidos pra mim desde bebê. E dá-lhe problematização! Quem já teve seus filhos, dá pra ler e já praticar (e nos contar as dificuldades que enfrentaram).

Façam juntos. Lembra que aprendemos no primário que verbos são palavras "de ação"? Bom, pai é verbo tanto quanto mãe.

Mas não é só feminismo que o livro aborda. Temos vislumbres de outras lutas sociais, em especial o movimento negro, já que a autora também se engaja nessa causa. Mesmo assim, Chimamanda considera o sexismo pior, por ser mais difícil de ser observado. E entendo sua tristeza e revolta, já que muitas pessoas próximas a mim têm a mesma dificuldade de enxergar atitudes, falas e perspectivas machistas.

Os estereótipos de gênero são tão profundamente incutidos em nós que é comum os seguirmos mesmo quando vão contra nossos verdadeiros desejos, nossas necessidades, nossa felicidade. É muito difícil desaprendê-los, e por isso é importante cuidar para que sua filha rejeite esses esterótipos desde o começo.

Também recomendo MUITO o outro livreto da autora, Sejamos todos feministas. Ele é esclarecedor, o pontapé para uma nova visão ou uma reafirmação de ideiais. Assim como esse, é bem curtinho, pra ser lido, relido e absorvido constantemente - e de preferência primeiro, pra já entrar no clima.

Aqui na blogosfera tem muito livro de ficção - e não há problema algum nisso; como a própria autora recomenda, leituras variadas são importantes para diversificação de mundo e visão. Mas de vez em quando é bom a gente sair da zona de conforto e se lançar em uma leitura que vai além do entretenimento e pode transformar vidas.

Em vez de ensinar Chizalum a ser agradável, ensine-a a ser honesta. E bondosa. E corajosa. Incentive-a a expor suas opiniões, a dizer o que realmente sente, a falar com sinceridade. E então elogie quando ela agir assim. Elogie principalmente quando ela tomar uma posição que é difícil ou impopular, mas que é sua posição sincera.

Enfim, desconstrução é um processo lento, gradual e em constante progresso. Não nos livramos de preconceitos da noite pro dia nem estamos imunes a falar/fazer alguma bobagem porque começamos a entender a importância da igualdade (de gênero, raça ou qualquer outra causa). Mas é nosso dever buscar melhorar, abrir o coração, praticar a empatia e lutar por uma sociedade mais justa. E, se não dá pra mudar o mundo, dá pra educar a próxima geração com mais amor e empoderamento. Vamos tentar?

Resenha Livro Para educar crianças feministas

Para educar crianças feministas - Chimamanda Ngozi Adichie
Companhia das Letras
96 páginas
Livro cedido pela editora
Onde comprar: Submarino | Americanas | Saraiva | Amazon

7 comentários

  1. Oi Giulia ;)
    Fiquei muito feliz que você favoritou!
    Já tinha visto outras resenhas sobre o livro, mas a sua que me deixou com muito interesse em lê-lo.
    Me interesso em saber mais sobre o feminismo e o movimento feminista, e adorei a forma como você disse que ela abordou o livro.
    Já fui procurar os discursos dela no youtube.
    Obrigada por fazer essa indicação maravilhosa, com certeza irei lê-lo!
    Bjos

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  2. Oi Giulia,
    Nunca li nada escrito por Chimamanda, mas sempre que vejo a recomendação de uma de suas obras, fico muito curiosa e orgulhosa de ter alguém que consiga representar a nós, mulheres, de uma forma tão verdadeira e corajosa. Eu não tenho ideia de como criar um filho, não sou mãe e só de pensar em ser responsável pela educação de alguém fico assustada. Minha maior preocupação está em ensinar os valores certos, sem fazer diferenças ou descriminações. Para educar crianças feministas é uma cartilha que deve ser espalhada pelo mundo e lida todos.

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  3. Giulia!
    Acredito que caremos de mais livros como esse, onde podemos discutir mais abertamente, principalmente com as crianaças, sobre o feminismo.
    E tão bom ver que gostou do livro.
    Vi críticas na TV porque achavam que as crianças não deveriam ser exposta a esse tipo de pensamento, vê se pode?
    “Uma pergunta prudente é metade da sabedoria.” (Francis Bacon)
    Cheirinhos
    Rudy

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  4. Oi, Giulia!!
    Que legal essa indicação de leitura!! Ainda não li nenhum livro da Chimamanda mas achei bem interessante ensinar como nos podemos criar crianças mais ciente do que é ser uma feminista.
    Bjss

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  5. Uma amiga minha comprou e ficou super animada com a leitura.
    E agora fiquei curiosa sobre como a autora retrata essas lutas!
    Ainda mais depois de ler essa resenha e ver como você gostou bastante.
    E por ser bem curtinho também, parece ser uma leitura bem leve mesmo.
    Fiquei bem interessada e espero conferir em breve.
    Beijos
    Caroline Garcia

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  6. Eu tenho uma irmã mais nova e sempre tento fazer com que com ela tenha em mente que pode tudo é não se deixe intimidar. Lembro que muitas vezes a gente te ia no shopping e minha iram ficava revoltada quando via as estampas masculinas cheias de personagens legais e as das meninas só flores 😐 Não se pode negar que a linda Chimamanda veio para abrir os olhos da sociedade, ou pelo menos os força a enxergar algo que já está a muito tempo na cara da sociedade. Obrigada pelo post.

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  7. Oi!
    Já conhecia a Chimamanda de um outro livro dela, mas achei bem interessante essa leitura, acho que é um grande desafio e responsabilidade você criar um filho e nunca tinha parado para pensar sobre isso, fiquei muito curiosa para poder ler e conhecer um pouco desse livreto e suas dicas !!

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