Passarinha - Kathryn Erskine


Título: Passarinha
Autora: Kathryn Erskine
Editora: Valentina


No mundo de Caitlin tudo é preto ou branco. As coisas são boas ou más. Qualquer coisa no meio do caminho é confuso. Essa é a máxima que o irmão mais velho de Caitlin sempre repetiu. Mas agora Devon está morto e o pai não está ajudando em nada. Caitlin quer acabar com isso, mas como uma menina de onze anos de idade, com síndrome de Asperger ela não sabe como. Quando ela lê a definição de encerramento ela percebe que é o que ela precisa. Em sua busca por ele, Caitlin descobre que nem tudo é preto ou branco, o mundo está cheio de cores, confuso e bonito.

Seja bem-vindo ao mundo de Caitlin, um lugar onde gritos e cores são uma tormenta.

Seu irmão Devon, 3 anos mais velho, era o porto seguro, a referência, o amigo, o único que a entendia, mas foi uma das vítimas fatais do ataque que teve na escola (a autora se inspirou na tragédia da Virginia Tech University, em 2007, o ataque com o maior número de mortos por um atirador solitário na história dos EUA). Sua mãe morrera de câncer há 2 anos. Seu pai sofre o luto pelo filho e chora a qualquer menção dele. Caitlin precisa Lidar Com Isso e se adaptar a uma nova realidade.

Caitlin tem Síndrome de Asperger, um tipo mais "brando" de autismo. Pra entender um pouco melhor, vou copiar algumas características aqui.
Défice de comportamento social; interesses limitados; comportamentos rotineiros; peculiaridade do discurso e da linguagem; perturbação na comunicação não verbal; descoordenação motora.
Você já deve ouvido falar dela. O jogador de futebol Messi tem, os físicos Newton e Einstein tinham, o pintor Michelangelo também. Um outro exemplo na literatura é o pai do John, de Querido John (Nicholas Sparks), lembra? Pois bem, "aspergianos" não têm nenhum atraso ou retardo cognitivo nem a linguagem prejudicada, pelo contrário, como os exemplos reais citados, a síndrome é conhecida como "fábrica de gênios".

Eu gosto das coisas em preto e branco. Preto e branco é mais fácil de entender. Cor demais confunde a cabeça da gente.

A habilidade mais que especial de Caitlin é desenhar; seus desenhos são perfeitos, parecem cópias. Mas ela não usa cores, prefere o preto e o branco, se sente melhor assim. Seus amigos são o dicionário, os livros, os bichos de pelúcia. Ela tem dificuldades de relacionamento, não consegue praticar a empatia. Para ela, a interpretação é literal; colocar-se no lugar dos outros é sair de onde está e caminhar até eles. Isso gera barreiras na comunicação, o que, consequentemente, dificulta amizades.

A Sra. Brook diz que as pessoas sentem muita dificuldade de me entender porque eu tenho Síndrome de Asperger e por isso tenho que me esforçar muito mais ainda para entendê-las e isso significa trabalhar as minhas emoções.
Eu preferia trabalhar nos meus desenhos.

O recreio é a "matéria" de que menos gosta, porque tem muito barulho, correria e gritos. Ela não consegue enxergar o preconceito dos outros e prefere se isolar pra que ninguém invada seu espaço pessoal. As coisas que fogem à rotina deixam Caitlin insegura, o desconhecido causa medo. Por isso ela gosta de fazer sempre as mesmas coisas, tendo a certeza de que não haverá nenhuma surpresa para lhe pregar uma peça.

Então comemos Pop-Tarts e salada com purê de maçã. Só que eu separo os ingredientes da salada e faço uma pilha de folhas verdes no meu guardanapo. E deixo o purê de maçã e a Pop-Tart totalmente separados porque não gosto de comida misturada nem de cores esbarrando umas nas outras. É muito difícil enxergar o que você tem que enfrentar quando as coisas começam a virar geleia e se fundir num borrão e se transformar umas nas outras.

Prestes a ingressar no ensino fundamental (equivalente ao nosso 6º ano), ela precisa desenvolver seus relacionamentos interpessoais e superar a perda do irmão. Pra isso, conta com a ajuda da Sra. Brook, a orientadora da escola. Seus encontros são marcados por conversas inspiradoras, esclarecedoras e às vezes engraçadas, quando as metáforas não são compreendidas e seu sentido literal acaba virando uma situação cômica. Michael, um menino da 1ª série, tem um papel importante na interação social de Caitlin, pois é o primeiro amigo que ela consegue fazer.

Depois de ouvir a palavra desfecho num noticiário, ela se decide a procurar por um para ela e seu pai, certa de que isso resolverá a tristeza que abate a casa. Juntos, pai e filha vão Trabalhar Nisso, buscando a solução dos problemas, ainda que aparentemente o caminho esteja totalmente errado.

Procuro a palavra desFEcho no Dicionário e ele diz: A vivência da conclusão emocional de uma situação de vida difícil como a morte de um ente querido.

O livro mostra a inocência de Caitlin. Quando seu irmão estava vivo, era ele que a ajudava a se comportar em público, dizendo o que ela devia fazer para conquistar a simpatia dos outros e não assustá-los. Mas agora ele não está mais com ela, por isso às vezes ela tem um PIB (Piti Incrivelmente Barulhento). Suas noções de educação precisam ser treinadas e incentivadas, como o Olhar Para a Pessoa.

Você chegou a reparar que em alguns momentos da resenha eu usei maiúsculas no meio da frase? E que os quotes apresentam frases com vários "e" para unir as partes? Caitlin tem sua forma peculiar de lidar com as palavras, usando maiúsculas pra destacar as palavras importantes. E também vai falando o que vem à cabeça, sem muita preocupação com estrutura frasal. Ah, sim! Não sei se foi uma opção da autora, mas não há travessões para marcação de diálogos. O que tem são parágrafos (cada fala em um diferente) e itálico.

A Sra. Johnson devolve o meu trabalho de grupo. […] Não se usam maiúsculas em substantivos comuns. Só as palavras especiais levam maiúsculas. (…) Ela colocou um X em cima do C de Coração e escreveu um c minúsculo. Não parece certo desse jeito. […] Como pode existir alguma palavra mais especial que Coração?

Passarinha é um livro com uma sensibilidade enorme. Kathryn desconstrói nossas impressões sobre o autismo e nos faz enxergar que é só uma característica de uma pessoa comum. É um grande exercício de empatia: ao ler, passamos a ter olhos que doem ao ver o colorido, ouvidos que não gostam do barulho, pensamentos tão literais que parece absurdo não pensar na interpretação mais simples. E percebi que já fui como Caitlin em vários momentos, quando optei por estar isolada no meu mundinho, fazendo pelúcia, colocando as mãos nas orelhas e me recusando a entender as entrelinhas de um texto.

Preciso destacar o excelente trabalho da Valentina. A revisão ficou boa, entendendo que certo erros são necessários porque é a narrativa de uma criança que usa vários "e" na mesma frase, por exemplo. O projeto gráfico é lindo e delicado; não só a diagramação, mas os detalhes na lombada, na 4ª capa... E que capa significativa! A imagem, as cores, os detalhes... Tudo se encaixou perfeitamente.
E, pra finalizar, a tradução teve seu diferencial. Logo no início há a nota de tradução, na qual somos familiarizados com os homônimos do inglês - por exemplo, chest é peito, local onde Devon levou o tiro, mas também pode ser armário, o projeto dele para Escoteiro Águia. Além disso, precisaram inventar uma nova versão para o filme To Kill a Mockinbird, lançado no Brasil como O Sol é para Todos. Para dar mais consistência à história, o filme passa a se chamar Matar Passarinho.

A primeira vez que a gente assistiu a Matar Passarinho eu fiquei esperando o filme inteiro para ver o pai dar um tiro no passarinho. […] Naquele ano o professor de literatura dele (de Devon) mandou a turma ler o livro e ele disse que o título fazia muito sentido e era isso que queria dizer: É errado atirar em um inocente que jamais teve a intenção de fazer mal a alguém. […] Acho que aqueles garotos maus que deram os tiros na escola não estavam prestando atenção na aula de literatura porque não Captaram o Sentido do livro mesmo.

O livro faz jus a todos os prêmios que recebeu, incluindo o selo Altamente Recomendável da FNLIJ e a indicação para o prêmio FNLIJ. Tenho certeza de que você vai adorar; não tem como não gostar de Caitlin e mergulhar nessa narrativa gostosa e envolvente sob sua perspectiva.

Livros não são como pessoas. Livros são seguros.

18 comentários

  1. Olá Giulia,

    Só leio resenhas positivas desse livro, a capa é bem criativa e depois da sua resenha com certeza vai para a minha lista....abraços.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  2. Oii,,

    Primeira vez que venho e que lindo esse blog.
    Menina que resenha incrivel, preciso desse livro agora *---*

    Adorei!!

    Beijinhos,

    EC&M

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  3. Eu preciso ler esse livro. Desde que vi ele numa semana especial que fizeram com ele que me interessei. Assim que der vou comprar.

    Blog Prefácio

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  4. Oi Flor!
    Eu sempre olhei esse livro por ai, mas até sua resenha não tinha me dado vontade de ler ele ainda! Parabéns! Comprovar por mim mesma se é merecedor de todos os seus prêmios! <3
    Participe do Niver de um ano do Blog Overdose Literária - Top Comentarista de Junho!
    Link: http://overdoselite.blogspot.com.br/2014/05/niver-de-um-ano-do-blog-overdose.html
    Beijos - Paulinha do Blog Overdose Literária!

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  5. Estou ouvindo falar desse livro só agora, parece ser bom.

    Beijos da Bia!
    Plumas e Paetês

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  6. Nossa, JÁ ESTÁ NA MINHA LISTA !! E essa resenha só me fez querer mais, adorei. Beijos
    http://livros-textos-e-mais.blogspot.com.br/

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  7. Essa capa é muito cute, minha gente!
    Eu adoro personagens com Asperguer!! Eu não sei dizer exatamente porque gosto tanto deles, mas algo me intriga em pessoas com esse problema, e na forma com a qual eles encaram a vida. É magistral! Adoro mesmo!!!
    Não li Passarinha ainda por falta de oportunidade, mas está na minha lista desde que saiu.
    Linda resenha!!

    bjus
    terradecarol.blogspot.com

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  8. Acabei de ler algo semelhante, o 'Colin Fischer' é confesso que foi um leitura meio complicada, mas com um contexto maravilhoso e um personagem único e incrível. Acho que 'Passarinha' pode ter alguns pontos em comum, mas acredito que é ainda mais maravilhoso e estou curiosa para lê-lo!!

    xoxo
    http://amigadaleitora.blogspot.com.br/

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  9. Oi Giulia, em primeiro lugar, obrigada por sua visita ao meu blog. E em segundo, esse livro parece ser uma graça, eu curto muito livros que tem algum personagem com algum tipo de síndrome, pois eles normalmente são muito carismáticos, um exemplo é Lisbeth Salander, da Trilogia Millenium.
    Estou te seguindo!!!
    Beijos

    blogfalandodelivros.blogspot.com.br

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  10. Ainda não conhecia esse livro, mas parece ser bem emocionante!
    Obrigada pela visita lá no blog, me sinto honrada, pois seu blog é considera famoso pra mim hsuhsuahs

    Beijos invernode1996.blogspot.com.br

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  11. Hey, tudo bem?
    Gostei muito da sua resenha e agora tenho muita vontade de ler o livro, já entrou pra minha lista!
    Gostei muito do seu blog, já estou seguindo!
    http://cantinhos2livros.blogspot.com.br/

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  12. Ansiosa pela leitura, espero gostar. O livro me chamou atenção desde quando a Valentina anunciou no twitter, o tema é algo me me chama muita atenção
    Brubs
    http://contodeumlivro.blogspot.com.br/

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  13. Olá!! Fiquei bastante curioso para a leitura do livro!! Vou colocar como desejado no skoob com certeza!! Tenho que ler esse livro esse ano ainda!!!
    Obrigado por me apresentar o livro! Amei a resenha!
    Abraços!
    Misael
    http://devoradoresde-livros.blogspot.com

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  14. Já havia visto esse livro antes mas não havia me interessado realmente pelo mesmo, após ler sua resenha, muito bem construída por sinal, fiquei comovida com a estória da personagem e curiosa para saber um pouco mais a respeito.

    http://soubibliofila.blogspot.com.br/

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  15. Menina, eu li esse livro mês passado e esqueci de resenhar acredita!
    Mas Catlin é a minha queridinha, me encantei e me envolvi profundamente com ela.

    Beijos.
    Leituras da Paty

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  16. Gostei da resenha Giulia. Parece ser um livro tocante e pretendo lê-lo assim que possível. Beijo!

    www.newsnessa.com

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  17. além de tratar de um tema importantíssimo a leitura promete emocionar
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br

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  18. Oi =)

    Eu amei este livro. Tão singelo e belo <3

    Beijos,
    Livy
    No Mundo dos Livros

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