As cordas mágicas - Mitch Albom

Todos os humanos são musicais. Por que outro motivo o Senhor daria a vocês um coração pulsante?

Sabe aquele livro que você deve ter cuidado ao falar/escrever, pois tudo pode ser spoiler? Pois bem, isso acontece em “As cordas mágicas”. Essa foi uma das resenhas mais difíceis que já fiz. Estou com aquela sensação de querer contar tudo para que todxs fiquem fascinados como fiquei, mas não posso.

A história inicia no funeral de Francisco de Asís Pascual Presto, ou futuramente Frankie Presto, um grande violonista que nasceu na Espanha em agosto de 1936. A vida de Frankie sempre foi de perdas e ganhos, ele pode ser considerado a resiliência em pessoa, pois passou por maus bocados. De início a sua mãe morre na noite do parto, uma cigana o cria, mas, por não ter condições e por uma ação de loucura, ela o joga no rio.

Frankie chamou a atenção de um cachorro que o salvou do rio, e o seu dono (Baffa) passou a cuidar da criança como um filho. Sabendo que ele tinha a música em si, Baffa procurou por professores para "ensinar" Frankie desenvolver o seu dom. Mas por ser novo demais, subestimaram o talento do garoto, até que ele vai atrás de um violonista cego para ser o professor de Frankie, que futuramente o seu discípulo irá chamá-lo de El maestro.

Por conta da guerra civil que o país estava vivendo, Frankie passou a viver com El Maestro, já que o seu pai adotivo foi preso. Após morar um tempo com seu professor de música, não é mais aconselhável de Frankie continue na Espanha. Por conta disso, Baffa (na cadeia) pede para que El maestro coloque Frankie em um navio e o envie para a América para viver com a sua irmã. No dia da partida de Frankie, El Maestro compra um violão para o menino e entrega a ele um conjunto com seis cordas. Só que essas cordas não são cordas comuns, e mais a frente Frankie vai descobrir que elas são mágicas. É nesse momento que começa a jornada de Frankie Presto pelo mundo.

Quando criança, sofreu enormemente e, por causa desse sofrimento, foi-lhe concedida uma dádiva. Um conjunto de cordas que lhe deu o poder de mudar vidas.

Presto, que em italiano significa rápido, desde a sua infância mostrava habilidade com o seu instrumento, e sua ida aos Estados Unidos permitiu se aprimorar ainda mais.


Ao longo de sua vida tocou em 374 bandas. Acreditavam até que ele seria o próximo Elvis Presley. Por falar em Elvis, ele até chegou a tocar com o mesmo e outros grandes artistas do blues e do rock. Frankie Presto era uma referência no mundo da música. Quem narra a vida de Frankie Presto é a música. Isso mesmo. Já imaginou? Inicialmente a impressão é como se a morte estivesse falando, mas depois que ela se apresenta tudo faz sentido. No decorrer do livro ela conversa com o leitor e, particularmente, adoro essa interação, é um dos pontos que me prende a leitura.

A jornada de Frankie Presto. Uma narrativa tão saborosa de compartilhar. Você demonstra interesse. Isso é tentador. Sempre sou tentada por uma plateia.

A narradora, a todo momento, faz questão de dizer que durante a vida nós fazemos parte de bandas, o que podemos chamar de nichos/tribos/núcleos, e em cada uma nós podemos passar um tempo ou seguir para outro rumo. E é assim que vemos a vida de Frankie Presto ser narrada. Seus altos e baixos e suas “entradas e saídas” em diversas bandas.

E, como em geral é o destino das bandas, a maioria vai se desfazer – por causa da distância, de diferenças, do divórcio ou da morte.

Além da narração da música, o livro conta com alguns depoimentos de amigos/músicos presentes no funeral de Frankie. Nessas experiências, temos a impressão de que ele conseguia chamar a atenção para si. Ele tinha algo de especial que sabia chamar e prender a atenção da plateia, tinha a música com ele.

Da forma que Frankie entrava na vida das pessoas, ele também sumia e ninguém mais o via pessoalmente, embora o acompanhasse nos eventos e nos prêmios de música. Ele conseguia influenciar a vida dessas pessoas e de algumas até conseguia alterar o futuro; nesse momento era que a corda mágica do seu violão ficava azul.

[...] posso afirmar que se Frankie não estivesse lá, Django jamais teria vivenciado a América nem a forma como ela influenciou a sai vida e arte. Por isso a corda de Frankie ficou azul quando eles se encontraram.

Um ponto positivo é que o livro acompanha os fatos que aconteceram na história mundial, inclusive músicos que fizeram sucesso e até hoje são lembrados. Acredito que isso enriqueceu tanto a narração quanto o desenrolar dos fatos.

Gostaria de tê-lo ouvido tocais mais uma vez. Ele não gravou um disco durante décadas – a menos que se acredite na lenda do álbum ‘não lançado’. Aquele que chamam de As cordas mágicas de Frankie Presto. Vai saber se é ele.

Como Frankie Presto viaja muito, texto possui alguns dialetos em espanhol, algumas músicas em inglês (com sua respectiva tradução), inclusive há muitos termos utilizados no mundo da música. Só um detalhe que encontrei foram uns errinhos de concordância e tradução, mas isso não compromete a história e nem a compreensão. A capa é do tipo soft touch com as letras em relevo. Tanto o título quanto a imagem do livro cumprem a proposta da história. O livro é divido em seis partes que retrata as fases da vida do protagonista. Acredito que todos nós temos um pouco de Frankie Presto.

Agradeço a Editora Arqueiro por enviar mimos tão lindos, principalmente a playlist contendo algumas músicas tocadas/lançadas por Frankie Presto durante a sua carreira. Em alguns momentos fui fazendo a leitura com a música e confesso que deu um toque especial à leitura.

Entramos e saímos de várias “bandas”, temos nosso momento de altos e baixos, de sermos influenciados e influenciar outras pessoas. Se você gosta de música, leia As cordas mágicas; se você não gosta (o que duvido muito), leia também. A história de Frankie Presto cativa e envolve tanto que é aquele livro que você fica “Só mais uma página... Só mais uma” e quando vê já leu tudo.

As cordas mágicas - Mitch Albom
Arqueiro
352 páginas
Livro cedido pela editora
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