{ no cinema } Estrelas Além do Tempo


Estrelas Além do Tempo Hidden figures

Estreia: 2 de fevereiro de 2017
Gênero: Biografia / Drama
Classificação: Livre
Duração: 2h07min
Direção: Theodore Melfi
Distribuidora: Fox Film

1961. Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras é obrigada a trabalhar a parte. É lá que estão Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), grandes amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito arraigado para que consigam ascender na hierarquia da NASA.

"Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos." É com essa frase de Martin Luther King Jr. que começo a crítica.

Baseado no livro Hidden Figures (Margot Lee Shetterly), Estrelas Além do Tempo conta a realidade precária e cheia de lutas de um trio de mulheres negras em uma NASA em plena época da corrida espacial. Além de focar no racismo - sim, o tema principal -, também foca no pioneirismo delas, cada uma destacando-se em um setor, todas com inúmeras barreiras a serem transpostas simplesmente pela cor de sua pele.

Mary Jackson é uma engenheira com duas graduações, mostra serviço e sabe do que é capaz, mas para crescer na carreira precisa de um curso, o qual só é oferecido numa universidade para brancos. Quando pensa em desistir, encontra nas amigas a força que precisa pra levar sua reivindicação à frente e conseguir o que tanto almeja. Como se não bastasse sofrer esses entraves no trabalho, em casa leva um balde de água fria com um marido que não compartilha dos mesmos ideais. Batalha dupla!

Dorothy Vaughan é aquele tipo de pessoa que vislumbra o futuro e corre atrás para pertencer a ele. A fim de não ser ultrapassada pelas novas máquinas - as ainda desconhecidas IBM -, ela começa a estudar programação e treina suas colegas. Mas seu maior desafio é conseguir o cargo de supervisora; mesmo exercendo esse papel, ela não é reconhecida por isso, muito menos recebe o salário compatível. Suas cenas são praticamente todas com mulheres, ou seja, ela dá um belo exemplo de sororidade ao mostrar que não é preciso rivalizar, até porque há batalhas muito maiores a serem lutadas.

Das três a que recebe maior destaque é Katherine Johnson, um computador humano singular da época, aquela que consegue fazer os maiores e mais corretos cálculos, é relegada a uma posição inferior. Um de seus obstáculos é ter que sair do prédio onde trabalha para ir a outro só para usar o banheiro, pois havia "bathrooms" e "colored bathrooms". Mesmo provando sua alta capacidade, era preterida por ser negra. Além de seu cotidiano profissional, também acompanhamos em paralelo sua vida pessoal não muito facilitada por ser viúva e mãe de duas meninas.

O que mais impressiona é que isso era tratado de forma muito natural na época. A Flórida era declaradamente um estado segregado, a despeito de vários outros estados do país já terem abolido tal absurdo. As três se destacam por serem as primeiras negras a conquistar algo até então inédito, nos mostrando que não devemos nos deixar abater e durante a caminhada, pelo contrário, continuar agindo com excelência.

Facilmente o espectador é envolvido no drama de cada uma delas, suscitando um sentimento de revolta e injustiça. Se assistir a um filme já me deixou desesperada, imagina como era viver aquilo na pele, o preconceito escancarado.

O roteiro é bem desenvolvido e muito emocionante, de arrancar lágrimas. As imagens misturam gravações históricas (foguetes sendo lançados, discurso de Luther King etc.) com cenas próprias do filme, o que torna a biografia mais real, mais próxima. O trabalho das três atrizes foi espetacular, em especial de Octavia Spencer (indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). Figurino e cenário também são um show à parte, com cabelos, roupas, acessórios, carros e objetos característicos dos anos 60. Os 127 minutos irão passar bem rápido, vai por mim.

Ao final, rapidamente aparecem fotos (novas e já idosas) e o desfecho de cada uma dessas três pioneiras, exaltando a força da mulher no mercado de trabalho e reconhecendo a importância de suas contribuições para a NASA, os EUA e - por que não dizer? - o mundo.

Acredito que o filme vai causar sentimentos opostos. Aqueles que vivem o preconceito vão se enxergar e orgulhar de ter pessoas tão guerreiras que abriram portas numa época tão difícil. Aqueles que até hoje relutam em admitir que o preconceito existe serão incomodados, talvez até não gostem. Mas todo mundo vai ser inundado com uma onda de feminismo negro.

Aproveita que estreia hoje e corre pro cinema. Você não vai se arrepender.

7 comentários

  1. Giulia!
    É um filme que quero assistir, porque elas foram desbravadoras em uma época em que o preconceito nos EUA era ainda mais arraigado e ainda assim conseguiram mostrar sua força e inteligência, tornando indispensáveis para a conquista do espaço.
    “Um saber múltiplo não ensina a sabedoria.” (Heráclito)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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  2. Giulia, vi a entrevista delas com o Fantástico, e realmente essas atrizes mereceram dar vida à essas mulheres guerreiras. O que eu fiquei bem chocada é que toda essa história foi escondida por tempos pelo fato delas serem cientistas mulheres e negras, mas graças ao cinema serão reconhecidas.
    Eu realmente quero poder ver esse filme.

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  3. Não fazia ideia que a obra arrancaria lágrimas, sério.
    Parece ser uma história bem emocionante e fiquei bem interessada por tudo que conheci aqui!
    O filme aborda um tema importantíssimo e acredito que seja uma ótima pedida assisti-lo.
    É tão bom quando o nosso trabalho é reconhecido e essas mulheres mereceram.
    Beijos,
    Caroline Garcia

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  4. Olá, é incrível como os temas que envolvem racismo se estendem para os lugares mas inusitados. O filme é uma obra de arte, as críticas são sutis e ao mesmo tempo diretas e ainda temos a oportunidade de conhecer um dos primórdios que levou aos direitos hoje garantidos às mulheres no mercado de trabalho. Beijos

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  5. Oi, Giulia!!
    Adorei a indicação do filme sempre é bom ver que as mulheres podem fazer tudo o que querem independente de cor, raça e etnia!! Achei o filme inspirador e sem dúvida quero muito assistir a história dessas guerreiras!!

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  6. Olá,

    Vi muitos comentários bons sobre o filme, porém não é o estilo de filmes com que estou acostumada. Geralmente, sempre procuro um romance ou comédia, no entanto fiquei bem intrigada com esta premissa, e estou só esperando a oportunidade surgir para ir assistir.

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