Em Águas Sombrias - Paula Hawkins

Nel acabou de ser encontrada morta no lugar que mais lhe despertava fascínio, o Poço dos Afogamentos, um trecho do rio onde várias mulheres também morreram. Ela vinha pesquisando há algum tempo sobre aquelas mortes, o que a fez não ser tão bem-vista na cidade. Aliás, em Beckford todo mundo tem seus segredos. A começar por Jules, que fugiu da cidade assim que pôde e ignorou a família durante anos, e agora se viu obrigada a voltar e enfrentar os trâmites envolvendo a irmã e sua sobrinha e, o pior de tudo, relembrar todos os seus traumas.

Agora Jules é a única família de Lena, mas de nada isso ameniza a situação, pelo contrário, só faz com que as duas entrem em conflito, especialmente porque a adolescente acredita que a mãe tenha se matado e a irmã desconsidera a hipótese de suicídio. Junta isso ao fato de que Nel ligou várias vezes para a irmã e ela não atendeu nenhuma vez.

Nessa confusão toda, várias pessoas da cidade ganham voz e/ou destaque. Enquanto a investigação acontece, vamos conhecendo mais das mulheres que já morreram no Poço e dos outros habitantes de Beckford e percebendo que ninguém ali é o que parece ser. Os capítulos, ora em primeira pessoa, ora em terceira pessoa, são divididos com enfoque em personagens diferentes. Isso atrapalha muito no começo, pra gente entrar no clima, gravar nomes e identificar cada uma das figuras envolvidas. Mas depois que pega o ritmo fica mais fácil e envolvente.

São várias histórias entrelaçadas que a princípio podem parecer desconexas, mas aos poucos cada uma se torna importante para o todo. Conhecer outros personagens traz mais suspense e deixa o leitor mais confuso enquanto revela pequenos segredos da região: traições, mentiras, relacionamentos abusivos... Tudo isso também mostra como a escrita da autora é perspicaz, pois temos contato com estilos de narrativa diferentes dentro de um único livro. Em A Garota do Trem ela fez algo semelhante, mas com apenas 3 personagens, aqui o número subiu consideravelmente.

Durante a leitura, entendemos por que e como todos os moradores são atingidos, ainda que indiretamente, pelas mortes do Poço. E como essas conexões levam ao caso de Nel, na ânsia de descobrir se foi suicídio, acidente ou assassinato. O final... esse é um paradoxo. Algumas coisas são previsíveis, outras surpreendentes, afinal estamos lidando com vários desfechos de vários núcleos.

Saindo do thriller e indo mais a fundo, o livro aborda questões muito fortes sobre o universo feminino, o que nos aproxima das personagens e até mesmo nos ajuda a criar empatia e viver o livro mais intensamente. Não estou falando de estereótipos, mas sim do peso de ser mulher. Temas como a pressão da sociedade, o luto vivido por uma mãe que perde o filho, sentimentos ruins causados pelo machismo, tudo isso é explorado sem cair na mesmice nem ficar excessivamente dramático.

O segundo livro que li da Paula Hawkins foi diferente. Não posso dizer que foi melhor ou pior, porque cada um teve sua particularidade. Mas, se minha opinião pode te ajudar a decidir, sim, leia! E prepare o coração pra horas de leitura tensa.

Em Águas Sombrias - Paula Hawkins
Record
364 páginas
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7 comentários

  1. Ainda não li nada da autora, mas to sempre lendo resenhas, positivas na maioria. Já é intrigante uma pessoa aparecer morta num poço e saber que ela não foi a primeira é mais intrigante ainda. Suicídio em todos os casos? Um assassino a solta? E temos Jules, que fugiu de tudo e todos, mas é obrigada a retornar. Gostei bastante da resenha.

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  2. Oi Giulia!!
    Nunca li nada da autora mas tenho muita curiosidade!
    Não é o estilo de livro que leio com frequência mas estou procurando um livro para sair da minha zona de conforto..e acho que esse é um bom livro pra começar.
    Não sei se vou gostar de cada capítulo com um foco de um personagem diferente mas vou tentar..

    Bjos

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  3. Ainda precisava ler aquele outro livro dela, mas esse me chamou atenção e gostaria de conferir. Vi algumas coisas falando que o estilo da narrativa e esse negócio de falar de muitos personagens ficou confuso e meio sem propósito. Que parecia arrastado e coisas assim. Talvez não achasse porque gosto quando o autor fica enrolando a gente e dando esse ar de mistério para as coisas, fazendo com que a gente fique ali tentando ver as conexões e desvendar e tal. E falando de um monte de temas ao mesmo tempo fica algo bacana de ler. Parece legal esse foco que ela tem nas questões femininas, de como a sociedade joga uma pressão ruim na gente e essas outras coisas que disse. Se não ficar algo mais do mesmo é válido, bom de ler.
    Precisava pegar algo dela logo...a autora tem umas histórias bem interessantes.

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  4. Parece ser tudo confuso mas está interligado né?
    Eu gosto muito de quando o autor sabe trabalhar com primeira e terceira pessoa.

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  5. Oi Giulia,
    Eu já li A Garota no trem da mesma autora e digo, com muita convicção, que sua escrita é surpreendente e cativante. Em águas sombrias a autora segue com a criação de protagonistas femininas, que mesmo com seus conflitos internos e problemas do passado (como Jules que terá que lidar com a perda da irmã), precisam se mostrar fortes e saber lidar com os conflitos sem se perderem em meio a isso. Sinto que os crimes sitados na resenha são apenas o começo de uma trama bem maior a ser explorada no decorrer da história. Estou muito ansiosa para fazer esta leitura e espero ter uma grande surpresa com o enredo.

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  6. Giulia!
    Já gostei que os capítulos são pequenos, porém muitos narradores, por vezes me deixa bem confusa.
    A ideia de várias histórias paralelas, aparentemente sem conexão, para depois se interligarem, foi genial, porque de certa forma nos desligamos do tal Poço e ainda temos vários segredos a serem desvendados.
    Pena que o final foi um tanto previsível, mas ainda assim, quero poder ler.
    Desejo uma semana mais que tranquilo e abençoado!
    “Deus com Sua infinita Sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos.” (Paulo Coelho)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  7. Infelizmente não li o primeiro livro publicado por está autora, mas de todos este foi o que mais me cativou a leitura, ainda mais pelo fato de retratar questões mais femininas, o peso por ser mulher, e lidar com estás situações perante a sociedade. Além do mais está investigação parece nos prender a leitura, será estas mortes foi suicídio, ou assassinato. Acredito que seja impossível não sentir empatia por estás pessoas, acredito por isto seja uma leitura com uma grande carga emocional.

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