Equinócio: A Primavera - Lu Piras


Título: Equinócio: A Primavera
Autora: Lu Piras
Editora: Dracaena


A cidade do Rio de Janeiro é o pano de fundo onde a estudante de medicina Clara vive sua rotina diária com a família e amigos. O que ela não imaginava é que tudo o que acreditava estivesse prestes a mudar, com a visita inusitada de um anjo. As força do mal ameaçam escravizar a raça humana e, para impedir, o anjo da guarda Nath-Aniel (Nate) vem à Terra, disfarçado de humano, para alertar sua protegida Clara de que sua vida está em risco. Proibido de agir em nome dos humanos e alterar seus destinos, o anjo acaba por se envolver demasiado quando revela a Clara que o pai dela, um renomado cientista, é o responsável pela descoberta que despertou as forças do mal: a fórmula da perpetuação da vida humana (criônica). Toda a missão da legião de anjos celestiais é colocada em risco quando Nate e Clara se apaixonam.

Confusão. Essa é a palavra que define minha cabeça após a leitura do livro. E não digo isso porque ele é ruim ou mal escrito, simplesmente porque tive uma expectativa errada. Ficou confuso também? Vou tentar esclarecer a história de Clara (perdoem-me o trocadilho. rs)

Clara tem 21 anos, é carioca e estuda medicina. Perdeu a mãe com 15 anos e atualmente vive com seu pai, o renomado Dr. Maurício Chevallier, e sua irmã mais nova Olívia. Ela está envolvida com os preparativos do casamento de Chris, sua melhor amiga, com Gustavo. São seus amigos, também, Marcus e Jéssica, namorados, que com ela e Chris formam um grupinho na faculdade.

A história se desenrola a partir do tema "criônica", quando Dr. Chevallier busca uma forma de ressuscitar sua esposa Beatriz, mãe das meninas. Não sabe o que é isso? Dr. Chevallier explica.

- Criônica é um campo da criobiologia, filha. A criobiologia estuda as interações do corpo humano quando exposto à hipotermia. Estuda como a vida se comporta em ambientes frios - explicou ele diante de meus olhos esbugalhados. - A criônica é um processo de criopreservação de seres humanos, ou seja, preservação através das baixas temperaturas, com o objetivo de reanimação no futuro. [...] Imediatamente após a morte cerebral, uma espécie de coração-pulmão artificial impede a formação de coágulos de sangue. Depois disso, o sangue é substituído por uma solução de glicose que impede a formação de cristais de gelo e faz as células se preservarem. Ao mesmo tempo, a temperatura do corpo é reduzida o mais rapidamente possível, até se igualar à temperatura do gelo seco. O corpo é transferido para dewars, que são cilindos contendo nitrogênio líquido a -196ºC. Nessa temperatura, não há ameaça biológica e assim o organismo pode permanecer inalterado por centena de anos. [...] A fórmula nanotecnológica que estou desenvolvendo na criônica vai revolucionar o mundo científico!

Quando Clara era mais nova, seu pai contou-lhe este segredo, ao qual ela prontamente posicionou-se contra, baseada em seus princípios religiosos. Ele é um viúvo incorfomado, que não aceita a morte de sua esposa e se dedica tanto a trazê-la de volta que acaba não dando a devida atenção às suas filhas...

Somos uma família típica, com suas tradições e rituais. E como toda família assim, há particularidade no modo de ser e de estar de cada um de seus membros. A cadeira vazia de mamãe ao jantar sempre incomodava o papai. O olhar dele baixava e ele mudava quando seus olhos batiam naquele lugar vazio. Emudecia. Todos os dias era assim. Eu e Olívia tentamos descontraí-lo e Maria também ajudava a alegrar o ambiente com suas piadas.

O problema é que, anos depois, quando a fórmula já está bem avançada, Dr. Maurício some, deixando um rastro de sangue em sua casa. Ninguem sabe precisar, nem mesmo a polícia/perícia, o que aconteceu: ele foi sequestrado? morto? teria se suicidado?

Nesse ínterim, Clara começa a receber visitas de seu anjo da guarda Nath-Aniel, ou Nate, como preferir, primeiro através de sonhos, depois com contatos por SMS e e-mail. anjo moderninho, hein?! Haziel, o anjo de Olívia, também aparece, e ambas substituem a desconfiança e esperança de que seu pai estava vivo pela certeza de que o pior não aconteceu, mas ele ainda corre perigo. Ele fora raptado pelos Nephilins, descendentes dos anjos caídos do mal (há anjos caídos do bem, ok? esses fizeram a opção de cair), que têm interesse na fórmula e no impacto que isso irá causar na humanidade e em sua relação com O Criador.

E daí pra frente as coisas caminham...

Só pra constar: Nate e Clara se apaixonam e ele começa a considerar a possibilidade de cair para viver esse amor a la Nicolas Cage e Meg Ryan. Até que as descrições são bonitinhas, sabe?

Mas eu o vejo como um ser humano. A sua beleza vai além da estética, é algo que transmite com o olhar. E amo mesmo tempo que sua figura é tão real quanto imaginária, ele parece não ter matéria. Algo que não posso tocar. Ou posso?

Mas eu achei o romance deles tão... tão... (como posso dizer?) tão em segundo plano! (Oi? Giulia, você está doida?) Li até o final na expectativa principal de descobrir o que, afinal, Jonas e Rodrigo têm um contra o outro.

Jonas? Rodrigo? Peraí, não me lembro desses nomes!

Pois é, pra você ver que o mais me atraiu foram os personagens secundários. Jonas é o filho rebelde do Dr. Bauer, dono do laboratório onde Dr. Chevallier trabalha, um menino problemático que passou a sua vida perturbando a de Clara. Rodrigo é o irmão mais velho de Marcus, que tenta conquistar Clara, mas não obtém sucesso. De repente a história dos dois se tornou muito mais interessante do que o amor entre espécies distintas.

Fora que, tipo assim, eu me amarrei na do Jonas. Será que não rolaria ele e a Clara? =D aquela que SEMPRE torce pro cara errado

Tem também os pagãos: 3 meninos com nome esquisito e com roupas estranhas que são meio anti-sociais. Lá pelas tantas você descobre que eles são meio que espiões do mal, o que já era de esperar pelas aparências e atitudes. Pelo visto eles terão um papel fundamental no desenrolar da trama, mas vamos ver, né?

Destaque fofura pra Maria, a governanta da casa de Clara, uma segunda mãe. Tipo Tia Nastácia, sabe? Gordinha, boa de cozinha e um amor em pessoa. Amei essa personagem!

Olívia também me encantou com seu misto de maturidade e inocência. Sua paixão por astronomia é tão sincera que você se emociona junto com ela ao receber o presente de aniversário.

O livro apresenta uma temática diferente, inovadora (pelo menos pra mim que nunca li nada sobre anjos). Fala sobre criônica, sobre a relação entre anjos e humanos, sobre o embate entre o bem e o mal, dá uma pincelada em medicina e botânica... Confesso que fiquei admirada com a grande quantidade de termos técnicos utilizados (não fui conferir sua veracidade, mas já tinha lido em outras resenhas relatos de quem o fez e atestou).

Ponto super positivo é o cenário... O Rio de Janeiro continua lindo! ^^ Como sempre, a trama se passa na Zona Sul e Barra. algum autor pode retratar a vida suburbana, por favor? E a capa - linda, não há como negar - retrata exatamente o que o livro passa, achei simples, bonita e bem trabalhada.

Achei legal também as citações no início de cada capítulo. Uma pena que isso não foi uma constância, me deixando um pouco perdida.

Ah! O livro é escrito em 1ª pessoa, com a voz de Clara. Senti a história um pouco presa por isso, mas deu pra levar. O que me deixou completamente dessituada (essa palavra existe?) foi o 1º capítulo. Eis o prólogo, com a voz de Clara. Aí vem o 1º capítulo, contando em 3ª pessoa o dia da morte de Beatriz, sua mãe. Aí volta a ser narrado em 1ª pessoa. Pode ter sido lerdeza do momento, mas me perdi. Podia ter um indicativo dessa mudança singular.

Outra coisa que me incomodou um pouquinho foram as descrições longas demais. Exemplo: na parte em que estão os 12 anjos, a autora fala sobre a aparência e a vestimenta de cada um deles. Na boa, eu li muito en passant, pois não faz diferença nenhuma. Eles não mais aparecem na história e, se chegarem a dar as caras nos próximos livros, certamente não lembrarei nem seus nomes, quanto mais suas caras.

Mas o que mais me angustiou foi o final. E aqui vai um aviso a você que pretende ler: não crie a expectativa, como eu, de que uma parte da história se encerra, deixando algo em aberto para os próximos livros da série. Terminei a leitura com muitas interrogações e praticamente nenhuma resposta. É quase impossível soltar spoiler na resenha de Equinócio, pois ninguém que o tenha lido poderá lhe contar se Nate e Clara ficam juntos, qual a relação entre Jonas e Rodrigo ou se a mãe de Clara volta a viver (a não ser que isso seja o spoiler, mas eu gostaria de que tivessem me avisado).

Como disse no início, o livro não é ruim, mas também não me atingiu em cheio. Quero - e vou - ler Polaris e os outros 2. Preciso de respostas que apenas Equinócio não pode me dar.