{ resenha } As meninas - Lygia Fagundes Telles

Olá, leitores!

Antes de começar essa resenha eu vou me apresentar. (Não, não é a Giulia quem está escrevendo essa postagem!) Meu nome é Pedro Araújo e, a partir de hoje, eu passarei a escrever pra esse blog! Há umas semanas a Giulia abriu inscrições para colunista, lembram? Pois é, eu me inscrevi e aqui estou. 
Esse sou eu. (Ignorem a feiura)

Combinei com a Giulia que minhas postagens serão às sextas-feiras. Não escreverei apenas resenhas, também postarei umas coisas que escrevo (contos, poemas, e outras coisas. Você pode conferir o meu blog clicando aqui. e a minha página no facebook clicando aqui.) e também escreverei uma coluna nova: a Fique por dentro!, que vai trazer explicações, curiosidades e outras coisas sobre livros e literatura.

Então mãos à obra!


Para estrear, falarei de um dos livros da minha escritora favorita, Lygia Fagundes Telles. Trata-se do romance As meninas.

As meninas conta a história de três garotas que vivem em um pensionato de feiras progressistas em meio ao cenário da São Paulo de 1973, plena ditadura militar. Lorena é descendente de uma família nobre, uma jovem culta que tem um relacionamento com um homem casado e sonha em ser amada pela primeira vez por ele. Ana Clara, a mais bela, é viciada em drogas e, apesar de noiva, tem um relacionamento com um traficante. Lia é revolucionária, sai às ruas militando contra a forte opressão da ditadura. A vida dessas três jovens de personalidades tão distintas se entrelaçam nesse pensionato. Em meio aos devaneios de Lorena, das alucinações de Ana Clara e da luta de Lia é no pensionato que elas encontram um refúgio.
A narrativa desse romance é belíssima e envolvente, pois as três personagens narram a história, possibilitando ao leitor entrar inteiramente em cada uma delas. Os capítulos, geralmente, tem uma narradora predominante, mas os papéis se trocam quando elas se encontram (no pensionato). Às vezes é quase imperceptível ver a mudança da narradora de Lorena para Lia, por exemplo.
Sem contar que a personalidade de cada personagem está marcada muito fortemente na própria narração. No capítulos (ou partes) narrados por Lorena, vemos várias referências à música clássica, citações em francês, latim. Já quando Ana Clara narra, vemos um texto confuso, uma linha de pensamento danificada pelo consumo da droga, pelo trauma da infância. Até mesmo erros de pontuação são perceptíveis, evidenciando, por exemplo, sua confusão ao falar/pensar. Acompanhamos de perto, ao longo do romance, a vida desses três jovens de uma forma apaixonante. 
Talvez alguns achem a leitura cansativa no início. Acredito que Lygia Fagundes Telles o fez propositalmente. Afinal, caso ela escancarasse a luta de Lia contra a ditadura nas primeiras páginas, o romance seria impedido de ser publicado e, talvez, a própria autora fosse exilada.
Enfim, não darei muitos detalhes sobre o desenrolar da história porque quero que vocês a leiam. E resenha que conta o final do livro não tem graça, concordam?
Eu, particularmente, considero esse livro como um dos melhores da nossa literatura nacional. A autora consegue, com simplicidade, atingir um nível belíssimo de construção literária que emociona pela beleza dos pensamentos das personagens.
Termino aqui com uma citação do livro e um comentário de um de nossos maiores poetas.

"Mas não quero resposta, quero ficar só. Gosto muito das pessoas mas essa necessidade voraz que às vezes me vem de me libertar de todos. Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho. Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim." (Lorena, p. 153)

"Que beleza, que força, que matéria viva em lancinante em As meninas." (Carlos Drummond de Andrade, 1974)

__________________________________________
Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, em 1923, é membro da Academia Brasileira de Letras desde 1985 e membro da Academia Paulistana de Letras desde 1982. Leia mais aqui.