{ Clube da Liga } Pequenas Grandes Mentiras - Liane Moriarty

Título: Pequenas Grandes Mentiras
Autor(a): Liane Moriarty
Editora: Intrínseca
Nº de páginas: 400
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Nota:

Depois do sucesso de O segredo do meu marido, a autora australiana Liane Moriarty apresenta um livro ousado sobre as perigosas meias verdade que contamos a nós mesmos para sobreviver.
Com muita bebida e pouca comida, o encontro de pais dos alunos da Escola Pirriwee tem tudo para dar errado. Fantasiados de Audrey Hepburn e Elvis, os adultos começam a discutir já no portão de entrada, e, da varanda onde um pequeno grupo se juntou, alguém cai e morre.
Quem morreu? Foi acidente? Se foi homicídio, quem matou?
Pequenas grandes mentiras conta a história de três mulheres, cada uma delas diante de uma encruzilhada.
Madeline é forte e decidida. No segundo casamento, está muito chateada porque a filha do primeiro relacionamento quer morar com o pai e a jovem madrasta. Não bastasse isso, Skye, a filha do ex-marido com a nova mulher, está matriculada no mesmo jardim de infância da caçula de Madeline.
Celeste, mãe dos gêmeos Max e Josh, é uma mulher invejável. É magra, rica e bonita, e seu casamento com Perry parece perfeito demais para ser verdade.
Celeste e Madeleine ficam amigas de Jane, a jovem mãe solteira que se mudou para a cidade com o filho, Ziggy, fruto de uma noite malsucedida.
Quando Ziggy é acusado de bullying, as opiniões dos pais se dividem. As tensões nos pequenos grupos de mães vão aumentando até o fatídico dia em que alguém cai da varanda da escola e morre. Pais e professores têm impressões frequentemente contraditórias e a verdade fica difícil de ser alcançada.
Ao colocar em cena ex-maridos e segundas esposas, mãe e filhas, violência e escândalos familiares, Liane Moriarty escreveu um livro viciante, inteligente e bem-humorado, com observações perspicazes sobre a natureza humana.

Aquela dificuldade básica em resenhar um livro que você não amou nem odiou, mas não pode explicar os motivos pra não soltar spoiler. Tenso! :| Mas vamos lá que se fosse fácil eu não seria blogueira.

Madeline retrata a mulher separada que precisa conviver com a nova família do ex. Depois do abandono quando a filha era pequena, seguiu em frente, casou de novo, teve outros filhos, estava bem-resolvida aos olhos da sociedade. Mas, no fundo, nunca superou esse período da juventude e tem pensamentos amargurados, invejando a "perfeição" da nova - literalmente - esposa e comparando constantemente as atitudes do ex no passado e no presente. Tirando essas partes que envolvem o ex, Madeline é engraçada, do tipo mãe/amiga que faz de tudo pra defender quem ama, com o plus da TPM que faz todas as meninas se reconhecerem.

Celeste é aquela diva que você quer copiar. Linda, rica, viajada, bem-relacionada, com uma família perfeita. Inevitavelmente acaba sendo referência, o padrão de felicidade que uma mulher quer atingir. Só que as pequenas grandes mentiras da vida podem estar em qualquer lugar. O que será que se esconde por trás de fotos exalando alegria e paredes luxuosas? Celeste foi a personagem que mais ganhou minha torcida. Queria muito entender melhor suas motivações e vê-la agindo sem pensar nos julgamentos da sociedade.

Jane, ao contrário das outras mãe, é bem jovem, resultado de uma noite só. Se já não fosse o bastante lidar com o preconceito de ser mãe solteira, ainda precisa travar batalhas internas de inseguranças e desconfianças. O que mais marca em sua personalidade é sua autoestima comprometida por uma situação do passado que reflete em escolhas, comportamentos e dúvidas em relação a ela e ao filho. Essa é aquela pessoa que tem tudo pra ser feliz, mas acaba não enxergando as coisas boas de si e do mundo e se condenando a uma vida medíocre. Por ser da minha idade, me identifiquei bastante com algumas coisas.

Madeline, Celeste e Jane são mulheres que poderiam estar em qualquer lugar, ao nosso lado; por exemplo, enxerguei minha mãe como uma mistura de Madeleine com Celeste. Apesar de a narrativa ser feita em 3ª pessoa, podemos nos aproximar de cada uma delas e entender suas particularidades, os medos que as afligem, as paranoias que todos têm em segredo. Aos poucos, conhecemos quem elas são, como vivem e o que têm em comum - o que está longe de ser apenas os filhos que irão estudar juntos no jardim.

Além delas e seus filhos, ainda conhecemos vários outros personagens, que aparecem como coadjuvantes ou simples figurantes. Outras mães, alguns pais, outros filhos, profissionais da escola, pessoas da comunidade... Foram tantos que no começo fiquei confusa (e se você me perguntar alguns nomes agora eu provavelmente não vou saber te dizer quem é). O que me mais me marcou durante a leitura foi a forma como as pequenas grandes mentiras nascem, atuam e camuflam a realidade. Julgamentos precipitados, preconceitos por ignorância, supervalorização da própria imaginação... São tantas coisas que escondemos ou simplesmente não conhecemos, mas que nos fazem agir e pensar de maneira totalmente errada.

Repararam que até agora eu foquei nas personagens e seus dilemas? Isso pra mim é o principal do livro, entender mais da mente das pessoas e da loucura que é viver em sociedade. Mas, infelizmente, o foco do livro - ou pelo menos seu marketing - é outro. Eis que na noite do Concurso de Perguntas há uma morte, e desde o primeiro capítulo ficamos curiosos pra saber mais detalhes, até mesmo quem foi que morreu. Depoimentos de pais e professores se fundem à narrativa, aparecendo nos capítulos como algo relativo ao assunto daquele momento, mas também dando pistas do que pode ter acontecido. E todos os assuntos importantíssimos de que o livro trata acabam sendo abafados por essa dúvida cruel.

Se não fosse por isso, eu certamente teria gostado muito mais. Cheguei a comentar com o pessoal da Liga que a autora poderia ter escolhido outro clímax pra história, porque, bem ou mal, tudo gira em torno de saber as circunstâncias da morte, aproximando o livro do gênero policial. Poderia ser muito bem um drama maravilhoso e emocionante, mas toda essa sensibilidade ficou perdida com a investigação.

Falando um pouco mais da discussão que fizemos no clube... Dessa vez foi diferente porque usamos só o Facebook ao invés do Whatsapp, então conseguimos organizar melhor, ler e reler, curtir e concordar, sem ficar aquela coisa perdida características dos grupos do app. Foi essa conversa que me fez perceber como a discussão girou em torno da morte. Claro que a personalidade das personagens foi destacada, mas ainda assim senti que o grande tcham foi outro.

A gente já sabe disso lendo resenhas por aí, mas quando paramos pra ler o mesmo livro e debater sobre ele é nos damos conta de como as percepções são diferentes. O personagem preferido, a malícia pra captar uma pista, a comoção ou desprezo por algum personagem, tudo isso varia de acordo com nossas próprias vivências. Por exemplo, enquanto as meninas odiaram a Abigail (filha de Madeline com o ex, que no início da adolescência resolve ir morar com o pai e tomar como referência a madrasta, bem mais nova que a mãe), eu a entendi porque também vivi algo parecido, guardadas as devidas proporções. Interessante também como muda a visão das meninas que já são mães praquelas que ainda não viveram essa experiência, são pontos de vista e impactos bem distintos. O jargão "nem melhor, nem pior, apenas diferente" pode se encaixar perfeitamente na nossa discussão.

Mas, se uma coisa fica como lição, é a questão do julgamento sem saber o que realmente acontece. Isso acontece no livro direto, seja com a Madeline criticando a nova esposa do ex, seja com as testemunhas dando pitacos de cenas que não acompanharam do começo e pessoas com quem não convivem. Mas também aconteceu com a gente. A autora foi tendenciosa ao escolher as 3 protagonistas, as quais conhecemos um pouquinho melhor e só sabemos dos outros personagens através da visão delas. Mas e se aquela personagem que odiamos tivesse também capítulos dedicados a ela, contando sobre seu passado, explicando o que se passava na sua mente, esclarecendo motivações, desejos e conflitos, será que conseguiríamos entendê-la? Será que nossos sentimentos por ela seriam outros?

Agora voltando pra minha opinião pessoal... 400 páginas foram muita coisa pra história, dava pra ter cortado uma boa parte. O começo foi bem arrastado e o que me moveu a ler até o final foi a curiosidade - claro que sim! - e o compromisso com o clube. Não me senti presa à história nem tive aquela necessidade de ler sem parar pra descobrir o final. A autora teve uma baita ideia de personagens, ligações e assuntos, mas escolheu o clímax errado. Não consigo pensar em um clímax alternativo, afinal, se eu fosse boa com ideias seria escritora, não leitora, mas não gostei desse mistério da morte porque pra mim foi o principal.

Apesar de eu querer ler algo da Liane há tempos, confesso que se não fosse o CLL eu não pegaria tão cedo, por causa da fila que parece que só cresce. E curti a escolha, porque eu já tinha ficado interessada desde que vi a capa - que está linda e foi o que primeiro me chamou a atenção. Como li em ebook, não posso opinar sobre a diagramação. E, em relação à revisão, está bem boa, tirando uma palavra beeeem antiga que foi mal traduzida e deixada de lado pelo revisor. Na boa, guarda-livros não é do meu tempo. Socorro!

A resenha pode ter ficado meio vaga, mas quando você ler o livro vai entender por que não posso me aprofundar mais. A leitura mexe muito com o nosso emocional se conseguirmos romper a barreira da curiosidade e nos envolver com o drama de cada um. Se você for praticar a empatia, vai se alegrar, desconfiar, chorar, ter muito medo, não conseguir se decidir, querer o melhor pro filho (mesmo que ainda não tenha um). Mas, além de tudo isso, Pequenas Grandes Mentiras é um livro que nos faz olhar pra nós mesmos e refletir sobre as nossas percepções e julgamentos.

O "Clube do Livro da Liga" é formado por amigos que resolveram arriscar uma leitura coletiva e se surpreenderam com a interação que foi proporcionada. Temos muitos gostos e ideias em comum, além de muitas discussões e risadas. Ninguém nunca irá nos entender, ainda bem.
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