Graça Infinita - David Foster Wallace


Título: Graça Infinita
Autor(a): David Foster Wallace
Editora: Companhia das Letras
Nº de páginas: 1144
Onde comprar: Submarino | Saraiva | C. Bahia | Ponto Frio | Extra
Nota:

Os Estados Unidos e o Canadá já não existem: eles foram substituídos pela poderosa Onan, a Organização de Nações Norte-Americanas. Uma enorme porção do continente se tornou um depósito de lixo tóxico. Separatistas quebequenses praticam atos terroristas e a contagem dos anos foi vendida às grandes corporações. Graça infinita foi o último grande romance do século XX e teve um impacto duradouro e ainda difícil de ser aferido. Ora cômico, ora doloroso, ele encapsulou uma geração ligada à ironia e ao entretenimento, mas desconectada da imaginação, da solidariedade e da empatia. No romance, seguimos os passos dos irmãos Incandenza - membros da família mais disfuncional da literatura contemporânea -, conforme tentam dar conta do legado do patriarca James Incandenza, um cientista de óptica que se tornou cineasta e cometeu suicídio depois de produzir um misterioso filme que, pela alta voltagem de entretenimento, levava seus espectadores à morte. Enquanto organizações governamentais e terroristas querem usar o filme como arma de guerra, os Incandenza vão se embrenhar numa cômica e filosófica busca pelo sentido da vida. Graça infinita dobra todas as regras da ficção sem jamais sacrificar seu próprio valor de entretenimento. É uma exuberante e original investigação do que nos torna humanos - e um desses raros livros que renovam a ideia do que um romance pode ser.


Acho que essa é uma das resenhas mais difíceis que já escrevi em toda minha vida de blogueiro. Graça Infinita surgiu para mim por acaso, e a sinopse era tão instigante que eu senti que precisava lê-lo logo. As mais de mil páginas não me assustaram a princípio; sou fã de Stephen King, estou "acostumado" com isso.

Quando o livro chegou, veio junto a surpresa. Além de todas essas páginas, a fonte é bem pequena, e o arrependimento de ter solicitado começou a bater, mas me joguei na leitura. Esperando uma narrativa maçante, fui surpreendido pela escrita de David Foster Wallace, que não só me prendeu como me proporcionou uma excelente experiência.

O livro não segue uma narrativa linear, e isso pra mim, no geral, é algo horrível. Entretanto, no caso de Graça Infinita foi interessante. Pode-se dizer que o livro segue duas tramas principais, e é a partir delas que vamos conhecendo o universo proposto por Wallace nessa distopia. Acho que escrito de outra forma o livro não teria o mesmo impacto.

Aqui, os países da América do Norte, exemplos quando se tratam de potências mundiais, foram compactados em uma nação só, a Organização das Nações Norte Americanas (ONAN), devido ao fato de os humanos não terem aproveitado os recursos da natureza da forma correta e degradado cada vez mais o meio ambiente. Parte do território dos antigos Estados Unidos é um depósito de lixo tóxico e viver não é tão fácil, tendo os ataques dos separatistas, que abusam do terrorismo para conseguirem se beneficiar, cada vez mais constantes.

O primeiro núcleo dessa história é formado pela família Incandenza. O patriarca, James, foi um diretor de filmes experimentais, alguns grandes obras, mas nem todos bem-vistos pela população em geral. Ele também era dono de uma academia de tênis, referência aos apaixonados pelo esporte. Quando James morreu, coube à sua esposa, Avril, comandar a casa, a família e a academia.

Avril e James tiveram três filhos. O mais velho, Orin, era jogador de tênis, mas encontrou no futebol americano sua paixão e tornou-se um ídolo do esporte, além de um completo sedutor. O mais novo, Hal, tinha um futuro brilhante. Atleta e estudante impecável, o garoto passou a envolver-se com drogas, assim como Orin, e as consequências do uso contínuo foram degradantes. Já o do meio, Mario, é o mais animado, companheiro e otimista da família.

A família Incandeza está longe de ser normal. Os conflitos vivenciados diariamente dariam um excelente estudo psicológico, devido à disfuncionalidade com que os membros se comportam. Entretanto, não há como negar o afeto ali existente e o melhor de tudo: a escrita de Wallace torna a situação mais branda. Às vezes eu me pegava rindo de coisas que deveriam ser tristes, tamanho o humor com que o autor apresentava o contexto ao leitor.

O segundo núcleo da trama é protagonizado pelo ex-viciado e membro frequente dos Alcoólicos Anônimos, Don Gately. A ligação de Don com os Incandeza? Bom, ele mantém uma relação com a atriz Joelle van Dyne, que protagonizou alguns filmes de James, inclusive o que dá título ao livro e é muito importante para a história, e namorou o primogênito, Orin.

Falando sobre Graça Infinita, um dos últimos projetos de James Incandenza. O projeto toma proporções catastróficas quando é percebido que ele entretém seus espectadores de uma forma totalmente bizarra: as pessoas morrem devido à incapacidade de parar de assistir. Simples assim. O detalhe crucial é que o arquivo original está perdido pelo mundo e, se cair em mãos erradas, como nas dos temíveis Separatistas, poderia virar uma arma de guerra, tamanho seu poder letal.

O que posso dizer desse livro? A experiência foi tão única que até agora tento digerir tudo que li. O livro não só é uma distopia, como aborda questões tão atuais que nos fazem refletir o que será do mundo se não mudarmos nossos hábitos errados a partir de agora.

A escrita de David é tão singular e poética e trata de assuntos extremamente polêmicos com naturalidade, não aquela coisa forçada a que, infelizmente, estamos habituados. Seus personagens são tão bem desenvolvidos que é impossível escolher um favorito. Cada um tem sua singularidade, sua peculiaridade, sua complexidade. David pode ser descrito como um gênio a partir disso.

O livro é extremamente viciante, assim como o filme de Incandenza, embora eu tenha demorado alguns meses para lê-lo, alternando com outras leituras mais rápidas. O tamanho do livro assusta; se eu tivesse a versão digital dele, acho que teria sido mais tranquilo para ler.

Sobre a edição física, preciso dizer que estou apaixonado. A capa é bem minimalista, apenas com a caveira representada. O charme está nas laterais das páginas, que são laranja. Na parte superior e inferior temos o título do livro e na lateral o nome do autor, escritos em branco. A diagramação é bem simples, as folhas são amareladas e, como já citado, a fonte é pequena. A revisão me incomodou bastante. Encontrei muitos erros durante a leitura, e isso me deixou bem chateado, já que o livro é lindo e tem um preço bem salgado nas livrarias.

Pra finalizar, preciso dizer que recomendo demais Graça Infinita a vocês. Àqueles que não curtem livros mais "cabeça" talvez não devam se aventurar. Mas, se vocês já tem vontade de se aventurar nessa leitura e estão receosos, seja pelo tamanho ou por algum outro motivo, se joguem! Vale muito a pena.

9 comentários

  1. Ola Leonardo somente o número de páginas já me fez ficar assutada rss, confesso que o gênero não me atraiu para leitura, fico feliz que a leitura te surpreendeu. Mesmo com todos pontos positivios destacados em sua resenha e a escrita do autor envolvente dessa vez vou deixar passar a dica. abraços

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  2. Oiii!

    Leo, realmente essa capa é sensacional! Eu não conhecia o livro e esse numero de páginas realmente assusta, eu provavelmente não compraria por causa delas. Imagina se as letras não fossem pequenas quantas páginas teria hahaha.
    Maaaas, sua resenha está encantadora. Eu fiquei bem curiosa em relação a esse projeto. Ele pode mesmo ser uma arma e eu já fiquei bem curiosa para saber como ele "funciona"
    Gosto de ver essas criticas em obras e principalmente quando o autor consegue fazer isso de maneira inovadora.
    Espero que haja um ebook em breve para eu me aventurar e conhecer o autor.

    Parabéns pela resenha <3


    Beijinhos,
    www.entrechocolatesemusicas.com

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  3. Oii tudo em?
    Achei a resenha super legal porem não fiquei curiosa para ler.
    não tenho muita paciencia para ler livros desse tipo serios e enormes rsrs!!
    beijos
    www.marichic.com

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  4. Nossa, nunca tinha ouvido falar desse livro - provavelmente as mais de 1000 páginas assustaram demais os outros blogueiros para que o resenhassem... hehe... amo distopias mas essa tem uma pegada completamente diferente! Adorei essa coisa do filme maluco que mata as pessoas porque elas não conseguem parar de assistir, e fiquei bem curiosa para conhecer os Incandeza. Vou dar uma pesquisada no preço e ver se me animo a ler.

    Beijo!

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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  5. Oi Leonardo, tudo bem
    Eu adoro livros com muitas páginas, acho que nunca li um com mais de 900, então esse vai ser um desafio!! Você de cara me deixou super curiosa sobre esse filme que ele fez, e qual o motivo das pessoas morrerem depois. Aí vem e diz que é distopia e que trata-se de um enredo mais cabeça, nossa!!!! Não vejo a hora de ler!!!!! Sua resenha ficou ótima!!!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  6. Oi Leonardo, tudo bem???
    Nossa a sua resenha é a segunda que leio desse livro... eu achei incrível a forma que você descreveu a sua leitura, mesmo com a demora que teve para finalizar a leitura. Também pela quantidade de páginas era de se demorar mesmo.. ainda mais porque a leitura seja mais complexa né... de qualquer forma eu curti muito a premissa... não sei se eu leria, mas fiquei bem curiosa... porque acho que tem um conteúdo muito bom. É uma pena um livro de capa tão linda e com um preço salgado tenha muitos erros de português... Xero!

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  7. Leeeo, esse livro não é pra mim! O dia em que ele tiver uma adaptação você me avisa? hahah
    Eu totalmente amo distopias, mas pegar um livro com mais de mil páginas e letras pequenas não rolaria nunquinha! Qe bom que para você fluiu super bem.

    Beiijos, Andressa
    Mais que Livros | Curtindo a Vida a Dois

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  8. Oi Leonardo!
    Ri muito do seu comentário sobre nós fãs do Stephen King estarmos acostumados com seus calhamaços, rsrs. Mas confesso: "Graça Infinita" me assustou sim pelo tamanho. É que quando se trata de King, já sabemos que o autor nos conduz muito bem e suas páginas não pesam, né? Nunca li nada do Wallace, então fico meio receosa de embarcar nessa audaciosa aventura, mesmo com uma premissa tão interessante.
    Acredito que a sua resenha seja a primeira que leio sobre o livro. Me deixou curiosa. Adoro esses livros que nos obrigam a continuar tentando digerir a leitura mesmo depois da última página. Adoro personagens complexos. Mas essas mil páginas….rsrs
    Beijos,
    alemdacontracapa.blogspot.com

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  9. Oi Leonardo!
    Ri do seu comentário sobre nós, fãs do Stephen King, estarmos acostumados com seus calhamaços. Mas confesso: "Graça Infinita" me assustou sim pelo tamanho. É que quando se trata do King, sabemos que o autor nos conduz muito bem e que suas páginas não pesam, né? Como nunca li nada do Wallace, fico receosa em embarcar nessa aventura audaciosa.
    Acredito que a sua resenha seja a primeira que leio sobre o livro. Fiquei curiosa. Adoro livros que nos deixam tentando digerir a história mesmo depois da última página. Adoro personagens complexos. Mas essas mil páginas…rsrs
    Beijos,
    alemdacontracapa.blogspot.com

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