O Teorema Katherine - John Green


Título: O Teorema Katherine
Autor: John Green
Editora: Intrínseca


Após seu mais recente e traumático pé na bunda - o décimo nono de sua ainda jovem vida, todos perpetrados por namoradas de nome Katherine - Colin Singleton resolve cair na estrada. Dirigindo o Rabecão de Satã, com seu caderninho de anotações no bolso e o melhor amigo no carona, o ex-criança prodígio, viciado em anagramas e PhD em levar o fora, descobre sua verdadeira missão: elaborar e comprovar o Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines, que tornará possível antever, através da linguagem universal da matemática, o desfecho de qualquer relacionamento antes mesmo que as duas pessoas se conheçam.

Uma descoberta que vai entrar para a história, vai vingar séculos de injusta vantagem entre Terminantes e Terminados e, enfim, elevará Colin Singleton diretamente ao distinto posto de gênio da humanidade. Também, é claro, vai ajudá-lo a reconquistar sua garota. Ou, pelo menos, é isso o que ele espera.

Passeio no shopping com a vovó. John Green na vitrine. Olhinho brilhando. "Pega lá o livro que você quer, presente de páscoa". E no dia seguinte, depois da prova, a gente pega pra ler e não larga até acabar. Em resumo, eis a nossa história.

Conheci Colin e suas 19 Katherines. Não, eu não estou exagerando, são dezenove!!! O livro começa justamente quando ele leva um pé na bunda da Katherine XIX e entra numa quase depressão. Seu amigo Hassan aparece pra salvá-lo e eles partem rumo a uma aventura "pé na estrada", sem destino certo.


Quando se trata de garotas (e, no caso de Colin, quase sempre se tratava), todo mundo tem seu tipo. O de Colin Singleton não é físico, mas linguístico: ele gosta de Katherines. E não de Katies, nem Kats, nem Kitties, nem Cathys, nem Rynns, nem Trinas, nem Kays, nem Kates, nem - Deus o livre - Catherines. K-A-T-H-E-R-I-N-E. Já teve dezenove namoradas. Todas chamadas Katherine. E todas elas - cada uma, individualmente falando - terminaram com ele.

Só que Colin não é um menino comum. Ele foi uma criança prodígio, sabe falar umas 7 línguas, faz anagramas como ninguém, sabe os 99 primeiros dígitos do número PI 3,12... e quer ser um gênio da humanidade, só que não consegue encontrar algo pra elevá-lo a tal condição. E quando ele se vê mais uma vez "terminado", resolve criar o "Teorema Katherine", que é, basicamente, uma expressão matemática que pode prever o destino dos relacionamentos - quanto tempo dura, quem termina - achando que essa será sua grande descoberta e seu passaporte para a genialidade.

Antes que eu comece a falar sobre as minhas impressões, já adianto: não chega aos pés de A Culpa é das Estrelas (resenha aqui). Não que seja ruim, muitíssimo pelo contrário, mas chega a ser uma injustiça compará-lo. É como se ACEDE merecesse uma 6ª estrela. E acho que foi justamente esse o problema, porque minha base para comparação Johngreeanística é elevada demais. Mas teve um quote que foi impossível não lembrar de ACEDE...

É possível amar muito alguém. Mas o tamanho do seu amor por uma pessoa nunca vai ser páreo para o tamanho da saudade que você vai sentir dela.

Voltando à nossa programação normal... Katherine é um livro beeeem nerd, todo trabalhado na matemática. É daqueles em que você tem que ficar ligado o tempo todo, senão a piada passa despercebida. Toda hora há conexões com outras partes do livro, feitas, muitas vezes, pelas notinhas de rodapé, ora explicativas, ora complementares, ora só pra fazer adendo ao texto. Ao todo são 87 delas, que deram um toque especial ao livro.
E os anagramas? Como eu queria ser fluente em inglês pra ler na língua original e ver as brilhantes sacadas de John Green. (nesse momento abro um parênteses pra elogiar o trabalho de tradução, porque, além de traduzir a palavra/expressão, teve que encontrar anagramas compatíveis com a nossa língua)

Aquelas horas de ruídos que não o deixavam dormir lhe deram bastante tempo para se questionar sobre tudo, [...] até a quantidade de anagramas gramaticalmente corretos para galo cantando.
Ele achou vinte, dos quais só gostou mesmo de dois: "o tal candonga" e "canal do tango".

Eu nunca fui neeeerd, mas tive um quê de "menina inteligente" (me recuso a falar CDF porque nunca fui de estudar; estava mais pra aluna que não presta atenção e tira nota boa), então procurei entender, ainda que um pouquinho, a mente de Colin. Caso típico: ele todo empolgado pra falar sobre alguma coisa, um fato que leu/viu, e o Hassan vira pra ele e fala "isso não é interessante". O problema é que ele acha TUDO interessante, inclusive o esfíncter da pupila, a mitose, piadas que terminavam com equações físicas, a gramática russa... E aí de vez em quando batia uma peninha dele levando um balde de água fria.

Dessa vez, Green optou pela narração em 3ª pessoa. E eu já gosto mais assim, então foi prato cheio pra mim. E o bacana foi que ele não seguiu uma linha do tempo certinha. Quando precisava, ele inseria uma explicação sobre um acontecimento no passado, e depois voltava pro presente (mas sem aquela coisa monótona que a gente vê em muitos livros por aí).

Assim como falei em ACEDE, a capa é simples e perfeita. No decorrer da leitura você vai entendendo o porquê dos desenhos. Pela milésima vez, sou adepta do "menos é mais".

E sim, tem gráficos no meio do livro, aqueles de função (se lembra disso na escola?). No decorrer do livro tem uns simples, básicos, compreensíveis. E no final tem um apêndice exclusivo sobre isso, com um amigo matemático do Green explicando. Eu juro que me esforcei pra compreender, mas foi além do meu alcance. Hihihihi!

Os livros são o melhor exemplo de Terminado: deixe-os de lado e eles o esperarão pra sempre; dê-lhes atenção e sempre retribuirão o seu amor.

O livro não é só sobre nerdices, matemática, namoros e equações. Por trás de tudo isso, acompanhamos e refletimos junto com Colin em busca de respostas, que vão muito além do Teorema. Foram anos de pressão, de cobranças, de expectativas, e agora, finalmente, ele pode pensar, avaliar e mudar seus conceitos. Será que ser um gênio é aquilo que ele realmente quer? Ele precisa disso? Por que a vontade de ser tão importante? Até onde somos influenciados pelo que os outros pensam de nós?
E nós, ainda que não tão prodígios quanto ele, também temos os nossos objetivos que, às vezes, precisam ser reavaliados.

E a moral da história é que não é a gente que lembra o que aconteceu. É o que a gente lembra que se transforma no que aconteceu.
[...]
Mesmo sendo uma história boba, o ato de contá-la gera uma mudança pequenininha na outra pessoa, da mesma forma que viver a história causou uma mudança em mim. Infinitesimal. E essa mudança infinitesimal se propaga em ondas - sempre pequenas, mas duradouras. Eu serei esquecido, mas as histórias ficarão. Então, nós todos somos importantes - talvez menos do que muito, mas sempre mais que nada.