Eu, meu pai e meus outros amores - Lilian Reis


Título: Eu, meu pai e meus outros amores
Autora: Lilian Reis
Editora: Novos Talentos da Literatura Brasileira - Novo Século


Eu, meu pai e os meus outros amores... Há coisas na vida que acontecem e a pessoa se revolta, fica com raiva de tudo e de todos, contudo, Jade teve que aprender da maneira mais dura, que o mundinho no qual ela vivia era fútil, uma imensa bola cheia de nada. Para Jade, tudo que importava era sua mãe, padrasto e amiga. O pai era um sonho inalcançável, uma figura por quem Jade nutria “sentimentos incompreensíveis”. Ela acreditava que aquela vida de badalações, academia de dança, luais, e festas eram tudo de bom, e para o qual valia a pena viver. O resto era descartável. Entretanto, Jade fora inserida “contra sua vontade”, em outro mundo. Um lugar completamente sem valor para ela. As pessoas pouco lhe interessavam e tampouco ela acreditava que eles se interessassem por ela. Para ela, uma garota da cidade grande, o que importava eram as coisas que ela podia fazer e a maneira como se divertia, e amava apenas essas pessoas que eram seu ”tudo”... Uma história cheia de emoções, conflitos, dúvidas e descobertas, que tem um enredo gostoso, uma linguagem jovem e engraçada. Prepare-se para conhecer o outro lado do mundo de Jade. Uma adolescente quase adulta, que se mostrou rebelde e marrenta. Será que Jade aprenderá com seus erros a ser uma pessoa melhor? O livro aborda vários temas importantes, dentre eles a primeira transa, a amizade, e os sentimentos de um modo geral. Contudo, a abordagem principal é o amor de Jade por seu pai. Um homem do interior, que conviveu com sua filha apenas nos primeiros anos de vida, mas que a marcou muito. Para ela, o pai foi seu herói, aquele que a acudia dos pesadelos e dos seus medos. Todavia, a imagem deixada por ele apagou-se pelo fato de ele não ser um pai presente. A vida de Jade deu outra guinada após uma tragédia, que a obrigou a viver outra realidade...

Quando eu conheci a Lilian, achei que ela fosse meio antipática, sabe? Daquelas autoras esnobes, que empinam o nariz. Ledo engano! Ela estava, sim, meio nervosa, por conta do horário de seu voo, mas logo depois, pela internet, pude ver que foi só uma primeira impressão ruim (e ainda bem que não foi a que ficou). Ela entrou em contato pra propor a parceria e eu aceitei na hora.

Me identifiquei demais com a história de Jade, uma adolescente de 17 anos, cujos pais são separados. Ela mora com a mãe e o padrasto no Rio de Janeiro e perdeu o contato com o pai desde que ele se mudou pra uma cidadezinha no interior de Minas. Só que toda a sua vida vai mudar depois de um acidente que matou sua mãe e seu padrasto: depois de 28 dias em coma, ela acorda, descobre tudo o que aconteceu e se vê obrigada a se mudar pra casa do pai, que já se casou e tem 2 enteados. Com seu mau humor e má vontade aliados à dor da perda, Jade inicia essa nova fase com muitos desentendimentos com a nova família.

Só que eles a receberam de braços abertos! A madrasta é uma fofa, que se comporta de maneira exemplar. O Duke, irmão emprestado mais novo, é super gente boa, carismático, que ajuda, protege e levanta o astral. O problema mesmo parece ser com Fred, o mais velho - caladão, fechado e, algumas vezes estúpido. E é dessa relação de quase ódio que nasce a paixão.

A Jade seria chata se eu não me identificasse muito com ela (isso quer dizer que sim, sou chata). Muitas vezes intolerante, inconformada com a tragédia, provocadora de brigas desnecessárias, um pouco imatura, que não assume seus sentimentos, mimada... Mas acredito que ela tem um bom coração e suas atitudes são justificadas pela tragédia por que passou. (fora o fato de eu ter vivido algo parecido - sair do Rio pra morar no interior de Minas - e também ter problemas com meu pai)

Quando minha mãe foi para o andar de cima, senti uma enorme transformação em minha vida. Foi uma dor arrasadora. Meu corpo e alma sofreram e minha cabeça ficou confusa. Meu coração mais parecia de pedra... Não conseguia perdoar o meu pai. N]ão conseguia abrir meu coração endurecido para ninguém. A minha personalidade, meu gestos, meu humor e meus desejos estavam ali, ainda, fortes, marcantes, entretanto senti que algo mudara dentro de mim.

Passei o livro todo ansiando pelo bom relacionamento da nossa protagonista com Bernardo, seu pai. Em algumas horas ela me irritou com tamanha estupidez, mas acho que isso é decorrência do sentimento de abandono (o qual eu conheço e, por isso, entendo). Também fiquei doida pra ela e Fred pararem de palhaçada e ficarem logo juntos. O romance cresceu aos poucos (tão aos poucos que cheguei a ficar irritada com o casal que não assumia seus sentimentos); era tão óbvio que eles se gostavam, mas nenhum dos 2 queria assumir. Mas, apesar disso, fiquei torcendo por eles.

Fiquei tão presa à história que trouxe o livro pra ler nas folguinhas do trabalho.

A narração é em 1ª pessoa, predominantemente pela Jade, mas em algumas partes vemos a situação pela ótica de Bernardo, Fred ou Duke. Sabe aquelas passagens em que tendemos a ficar parciais porque só ouvimos a versão de um lado? A autora nos mostra o "outro lado" justamente nessa troca de narradores. Muito legal e dinâmico.

Jade era uma moleca. Tinha seus momentos de rebeldia, que achava um saco, contudo minha irmãzinha era assim mesmo! Ora rebelde, ora dócil, às vezes moleca, outras vezes centrada. Ela fazia a gente criar paradoxos e antíteses acerca de sua pessoa. Ela extrapolava o senso comum e a lógica e era impossível esquecê-la, uma vez que todos nós gostávamos demais dela. - Duke

Foi legal acompanhar o amadurecimento de Jade e ver como ela passou pelas situações difíceis e aproveitou-as pra se transformar. De mimada à grata, nossa mocinha cresceu e provou que as pessoas podem mudar, principalmente diante de situações ruins.

O final... ah, o final! Lilian Sparks foi má. Podia não ter acontecido, mas... paciência. Não me fez chorar, mas, pra mim, estragou a magia do final.
O negócio é esperar agora o livro do Duke (a última frase foi a deixa, então estou aguardando)!

Ah, pra quem gosta de sobrenaturais, tem um leve toque no livro. modinha de anjo

Não achei tantos erros de português, mas o excesso de "contudo" e "entretanto" me irritou. E outra agonia veio nas partes em que o sotaque caipira é transcrito. Acho que basta explicar que o sotaque era carregado, que tal personagem falava arrastado, mas não precisa escrever "trabaio há muitos anu". Sei lá, sempre emperro nessas horas.

Senti falta de um adversário, seja um vilão ou uma situação adversa. Não houve ausência daquela parte de tensão, porém não teve aquela torcida pra alguém se ferrar ou pra mocinha se dar bem.

A capa é linda, com verniz localizado pra dar um destaque, só que não consegui enxergar a minha Jade na mulher da capa. Por dentro, páginas amareladas e fonte em tamanho grande. minha vista agradece
E destaque pras notas explicativas, tão raras de serem vistas. Expressões em inglês e citações a pessoas ou coisas eram traduzidas ou explicadas no rodapé, o que torna o livro ainda mais acessível.

Eu, meu pai e meus outros amores foi um livro que me surpreendeu. A Lilian fez um bom trabalho a partir de uma premissa simples. Um romance discreto, cativante, inspirador... E quando a gente se vê na personagem, o livro fica muito mais gostoso de ler!