Os Bons Segredos - Sarah Dessen

Título: Os Bons Segredos
Autor(a): Sarah Dessen
Editora: Seguinte
Nº de páginas: 403
Onde comprar: Saraiva | Casas Bahia | Travessa
Nota:

Há segredos muito bons para serem guardados — e livros muito bons para serem esquecidos Sydney sempre viveu à sombra do irmão mais velho, o queridinho da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paraplégico, e vai parar na prisão. Sem a referência do irmão, a garota muda de escola e passa a questionar seu papel dentro da família e no mundo. Então ela conhece os Chatham. Inserida no círculo caótico e acolhedor dessa família, Sydney pela primeira vez encontra pessoas que finalmente parecem enxergá-la de verdade. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, Os bons segredos conta a história de uma garota que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho.

Quando bati o olho na capa e no título, já decidi que iria ler. Não fazia ideia do gênero muito menos de que a autora é famosíssima, simplesmente resolvi e ponto. E, como vocês já devem imaginar, mal parei pra ler a sinopse, só lembrava de algo com irmão problemático.

Pois bem, conheci o drama da família Stanford. A vida perfeita de classe média alta começou a ruir quando Peyton, o filho mais velho, começou a ter comportamentos errados. De pequenos crimes, a irresponsabilidade evoluiu para direção alcoolizada, o que resultou num grave acidente de consequências significativas. Cada membro da família reagiu diferente ao lidar com Peyton preso. A mãe superprotetora começou um processo de vitimização, o pai preferia ignorar e acatar tudo que a esposa falava... E Sydney aguentou todo o peso da vergonha, culpa e preterição em seus frágeis ombros.

Um fenômeno estranho acontece quando uma coisa deixa de ser um fato isolado para se tornar um hábito. Como se o problema já não fosse um visitante temporário, mas alguém que se mudou de vez para a sua casa.

Mas a realidade dela muda quando entra na pizzaria da família Chatham e conhece Layla. Essa surpreendente amizade transforma sua visão de mundo, lhe concede novos valores e a possibilita assumir sua identidade como nunca pôde, sempre apagada na sombra do irmão - ora pela beleza e charme, ora pelos problemas criminais. E esse novo vínculo ainda a aproximou de Mac, irmão de Layla.

Foi fácil me envolver com os conflitos de Sydney. A narrativa em primeira pessoa possibilita acesso aos sentimentos e pensamentos mais profundos. Entendemos a sensação de invisibilidade que a perseguiu por toda sua vida, ficamos com raiva ao ver a injustiça com que seus pais a tratam, nos alegramos com suas pequenas conquistas, sentimos aversão a um determinado personagem... É tudo tão palpável que eu poderia encontrar a Sydney do meu lado - ou até mesmo dentro de mim.

Aliás, toda a narrativa é crível. Os personagens são bem construídos, os diálogos são reais, fica fácil aceitar a situação e mergulhar na trama apresentada. Normalmente tenho problema com a quantidade de personagens, mas a escrita de Sarah é tão boa que isso sequer foi um problema. Apresentados pouco a pouco e com personalidades bem marcantes, há vários secundários com seus próprios dramas, muito bem trabalhados. Mesmo sob a ótica de Sydney, podemos acompanhar outros conflitos dentro das mesmas famílias, constituindo uma teia complexa.

Para a maioria das pessoas, quando uma coisa quebrava já era. Eu adoraria sentir pelo menos uma vez a sensação de me deparar com uma coisa quebrada e enxergar uma saída em vez de um final.

Ao mesmo tempo que entramos num turbilhão de conflitos, ficamos deliciados com as descrições precisas, mas não sufocantes. Cenários e sensações - principalmente as gastronômicas - nos transportam pra cidade fictícia de Lakeview, seja na pizzaria Seaside, na caça à batata frita perfeita com Layla ou na floresta atrás da casa dos Chatham.

Como sempre acontece em livros com temas um pouco mais profundos, me vi mergulhada em várias reflexões durante e após a leitura. Pratiquei o exercício de empatia não apenas com Sydney, mas procurei também me colocar no lugar de seus pais, seu irmão, suas amigas, tentando entender os motivos de cada reação e as consequências de um mesmo acontecimento em cada pessoa.

O fato de uma pessoa não falar sobre algo não significa que não pense nisso. Na verdade, em geral é justamente esse o motivo para a pessoa não falar.

A prova que recebi da editora parece um livro e diga-se de passagem tem qualidade muito melhor do que uns por aí. Mesmo na folha branca da prova, a diagramação é confortável, com fonte e espaçamentos grandes, o que fez com que as 400 páginas passassem mais rápido do que eu esperava. Houve alguns erros bobos que provavelmente serão corrigidos na edição final. E a capa, que eu já comentei que adorei, ganhou significado depois que li (se bem que fiquei um tanto incomodada com o cenário no fundo).

Gosto das provas da Seguinte porque vêm com um recadinho da editora, apresentando a obra e nos mostrando uma quase resenha. De fato, quis comer pizza e batata frita e já estou esperando "o novo livro da Dessen", como ela previu. Os Bons Segredos foi uma leitura despretensiosa que conquistou meu coração, não por me arrebatar, mas por me apresentar um cenário complexo, com dramas familiares bem intrincados e relacionamentos de amor e amizade que não focam o sentimento em si, tudo isso apresentado com muita leveza. Dê uma chance a Sarah Dessen e entenda por que a mulher é considerada a rainha do YA.

O futuro era a única coisa que jamais poderia ser destruída, porque ainda não tivera a chance de existir.