{ papo reto } Simpatia conta!

Uma vez, em um encontro literário, estávamos discutindo se fatores externos interferem na nossa leitura. Chegamos à conclusão de que sim. Somos influenciados por questões que não necessariamente estão ligadas ao livro em si, à sua construção ou estrutura.

Maior prova disso são as playlists dos livros, que nos fazem entrar no clima. Mas outras coisas também podem nos afetar: a TPM, um ônibus lotado, o calor, um chocolate, uma briga com alguém querido... Vai dizer que você nunca passou por uma situação dessas, que fez com que enxergasse o livro de outra forma?

Pois bem, hoje eu quero focar no autor. Sim, o cara que escreveu o livro. É ÓBVIO que ele tem tudo a ver com a nossa leitura, afinal ele é o criador daquele universo paralelo para o qual nos transportamos ao degustar cada página. Mas será que para por aí seu nível de influência?

Não sei quanto a vocês, mas, pra mim, tem um quê a mais que pode ou não me ajudar a decidir por um livro e afetar minhas impressões iniciais, positiva ou negativamente.

Sou consumidora - de ideias, de produtos, de mágicas, de letras... de livros. Estes são uma mercadoria e, portanto, algo precisa me motivar para tê-lo. Adquirimos coisas, inclusive livros, porque temos necessidade, porque temos vontade, porque temos boas referências, porque queremos "estar na moda", porque queremos presentear e prestigiar. Sem hipocrisia, minha gente, eu leio por todos estes motivos. E, incluído nos meus motivos, está querer prestigiar o autor; é aí que ele começa a entrar na minha decisão. Querer admirar sua obra. Querer saber se ele manteve o jeito de escrever do outro livro, se amadureceu, se foi bem sucedido em outro estilo. Querer ler seu lançamento. Quem nunca desejou um livro simplesmente por ser de autoria de um Fulano, sem ao menos ler a sinopse?

O autor é peça fundamental. E nisso os autores nacionais têm grande vantagem sobre os de fora. Meu exemplar pode ser facilmente autografado em um encontro, na bienal ou, no máximo, se eu pagar o frete de ida e volta do livro. Posso perguntar a ele o porquê de certos acontecimentos ou atitudes de uma personagem. Eu tenho contato com ele pelo Facebook, por Twitter, por e-mail. Ele me adiciona e eu começo a fazer parte de sua vida: vejo suas viagens, seus esmaltes, seus dilemas. E, infelizmente, vejo coisas que não gostaria de ver.

Sou uma leitora como qualquer outro e, antes de tudo, sou humana. Tenho sentimento, me emociono, gosto de respeito e de ser bem tratada, acho legal quando me reconhecem e valorizam. Quando conheço um autor (simpático, claro), fico ansiosa pra ler seu livro. Em muitos casos, já começo a leitura pré-disposta a gostar do que vou ler. Como pode? Comprar e gostar de um livro porque o autor “vendeu o peixe” dele com paixão, com brilho nos olhos, com emoção ao falar sobre seu processo criativo, ou simplesmente porque ele foi simpático.

E o contrário também acontece. Já vi autores tratando leitores de uma forma, digamos, não muito amigável. Indiretas, desprezo, ignorância e até mesmo – pasmem – xingamentos. Com toda a sinceridade: sou capaz de deixar de ler o melhor livro do mundo só pra não ter que dar o meu precioso dinheirinho para pessoas que não sabem tratar pessoas.

Simpatia conta. Carinho conta. Reconhecimento conta.

Não só na minha decisão de que livro comprar, mas no meu sentimento ao ler. Já li imaginando a própria autora falando, e o trecho ficou muito mais divertido. Já li praticamente ouvindo a voz do autor narrando o livro, e me senti mais envolvida com o texto. Já li livro de autor antipático, e foquei mais nos defeitos do que na parte boa.

Cada vez mais vemos uma proximidade dos escritores com seus leitores, que, por entenderem a força de sua presença, se fazem cada vez mais presentes.

E pra você? Simpatia conta ou não conta?


Não podia escolher simpatia melhor pra ilustrar esse texto. ♥
Texto escrito originalmente para a coluna Entre Aspas do Portal Novos Escritores.