Amy & Matthew - Cammie McGovern


Título: Amy & Matthew
Autor(a): Cammie McGovern
Editora: Galera Record
Nº de páginas: 336
Onde comprar: Submarino | Saraiva | Americanas
Nota:

Amy e Matthew não se conheciam realmente. Não eram amigos. Matthew sabia quem ela era, claro, mas ele também sabia quem eram várias outras pessoas que não eram seus amigos. Amy tinha uma eterna fachada de felicidade estampada em seu rosto, mesmo tendo uma debilitante deficiência que restringe seus movimentos. Matthew nunca planejou contar a Amy o que pensava, mas depois que a diz para enxergar a realidade e parar de se enganar, ela percebe que é exatamente de alguém assim que precisa. À medida que passam mais tempo juntos, Amy descobre que Matthew também tem seus problemas e segredos, e decide tentar ajudá-lo da mesma forma que ele a ajudou. E quando a relação que começou como uma amizade se transforma em outra coisa que nenhum dos dois esperava (ou sabe definir), eles percebem que falam tudo um para o outro... exceto o que mais importa.

Ao invés de tentar resumir a história, vou me ater aos personagens, porque são eles que fazem todo o livro valer a pena, okay? Pois bem, como você já deve ter percebido, Amy e Matthew são os protagonistas deste new adult com um toque de sick-lit.

Amy tem um tipo de parasilia cerebral que a impede de executar alguns movimentos. Ela não tem controle sobre metade de seu corpo, não consegue articular as palavras nem ter expressões faciais, mas em contrapartida sua capacidade intelectual é incrível, chegando a colocá-la como uma das melhores alunas da escola. Para se comunicar, precisa digitar para que um aparelho reproduza sua fala, só que sem entonação, modulação ou altura, dificultando bastante a expressão de suas reais intenções, o timing e as piadas. Por conta de sua necessidade especial, ela cresceu com auxiliares ao seu lado o tempo todo, adultos que acabavam por afastar outros alunos, isolando-a no seu mundo "nerd com deficiência". A situação começa a mudar quando ela sugere à mãe que contratem alunos para serem seus auxiliares, de modo a desenvolver um convívio social e prepará-la para a universidade.

É aí que Matthew entra. A pedido de Amy, ele se candidata a uma das vagas e passa a ser seu acompanhante uma vez por semana. Mas, ao contrário dos outros colegas-auxiliares, com Matthew os assuntos não são tão triviais. Matthew tem TOC, o que faz com que ele lave as mãos várias vezes seguidas, conte os objetos e se culpe por qualquer coisa de ruim que aconteça a qualquer pessoa próxima. Lidar com as babas de Amy ou a comida que ela deixa escapar da boca são um desafio que vale a pena para estar perto da menina bonita, deficiente, incompreendida por todos, com um coração enorme.

Talvez não tenha essa noção, mas, quando se tem uma deficiência, quase ninguém fala a verdade para você.

Amy e Matthew são uma antítese interessantíssima. Ela não pode falar por si só nem camuflar suas dificuldades, ele usa sua "normalidade" pra esconder seus reais problemas; ela tem toda uma limitação física, ele é limitado por sua própria mente, ela foi criada para acreditar que poderia ser ótima nos estudos, ele acha que nunca será capaz o suficiente. Nesse mundo de opostos, os dois acabam se atraindo.

A história suscitou em mim tantas reflexões que eu acho que todos deviam ler para serem provocados da mesma forma. Como sempre, temo não conseguir expressar meus sentimentos com a leitura, mas não vou deixar de tentar.

Mesmo com a narrativa em terceira pessoa, pude criar empatia com cada um dos personagens, vivenciando suas dificuldades e temores, compartilhando suas alegrias e me apaixonando junto com eles. O romance é sutil e é bem resumido com a frase do subtítulo: "Às vezes eu te amo é o mais difícil de dizer". O sentimento aparece gradativamente e nunca é traduzido com palavras; se para dois adolescentes comuns isso já é um desafio, imagina para uma dupla com problemas tão peculiares. Mas essa foi apenas a cereja do bolo.

O relacionamento de amizade entre Amy e Matthew foi o que mais me cativou, como já adiantei anteriormente. Esses personagens quebram muitos paradigmas, tanto os que se impõem como os que lhes são impostos. Amy foi criada numa bolha de superproteção, e Matthew é o alfinete que chega pra estourar aquilo. É o velho clichê "eles se completam", mas de uma forma inusitada.

Nossas fraquezas se combinam muito bem. Nós preenchemos as lacunas um do outro.

A relação entre Amy e sua mãe, Nicole, também foi outro fator positivo. A maternidade é discutida aqui, trazendo questões como até onde uma mãe deve incentivar o filho, quanto a superproteção camufla a realidade, como preparar um filho parar lidar sozinho com as dificuldades da vida. São vários os questionamentos que podemos fazer em relação ao tema, amparados pelos erros e acertos de uma mãe que não se deixou limitar por uma deficiência e, ao seu modo, tentou prover tudo de melhor pra sua filha. Amy enfrenta um obstáculo físico, mas isso poderia se aplicar em outras dificuldades, até mesmo a de Matthew. E aí há o outro lado da moeda, com uma mãe que opta por não invadir o espaço pessoal do filho e não percebe quão grave o problema é. Viram como é complexo?

Com personagens tão substanciais, o enredo deveria ser um mero detalhe pra compor o todo, mas foi aí que a autora pecou. O livro começa muito bom, esfria demais na metade, ensaia uma melhora, tem um rompante surpreendente que abre um leque de possibilidades, e aí vem o final e desanda tudo, numa mistura de "só isso?" com "que tosco!". Por 2 vezes Cammie conseguiu estragar uma história que tinha tudo pra ser incrível. Definitivamente a autora não soube explorar todo o potencial que os personagens por si só já tinham.

Em relação ao trabalho da Galera, tenho algumas observações a fazer. Não há do que me queixar em relação à diagramação e à revisão, ambas estão boas. Mas eu achei um tanto quanto forçadas a tradução do título e a capa, numa tentativa de se aproximar de Eleanor & Park. O título original é "Say What You Will", que se encaixa muito bem à liberdade que os personagens sentem um com o outro, no mundinho particular da amizade deles. Aí, além de modificar o título, a editora ainda criou uma capa a la Rainbow Rowell, se assemelhando na disposição dos elementos, nas cores e até no balãozinho de fala. É linda? Sim. Mas preferia que a ideia original fosse mantida.

É claro que o meio arrastado, a decepção no final e esse lance capa/título não são motivos pra desmerecer o livro, acredito que toda experiência inédita ou reflexiva é válida. Não tem como ler e sair ileso, sem o mínimo de perturbação. E eu teria me arrependido bastante se não tivesse vivido essa experiência.

13 comentários

  1. *------* esse livro deve ser perfeito, já quero ♥
    adorei seu blog ♥♥♥
    ótimo final de semana
    bjo

    http://tatianecdesouza.blogspot.com.br/

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  2. Olá, não sabia que o livro se tratava de um sick-lit, gênero que vem crescendo cada vez mais, a capa é bom bonita e lembra muito a capa de um dos livros da Rainbow. Adorei a sua resenha.
    Beijos.
    http://marcasliterarias.blogspot.com.br/

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  3. Hey.
    Estou com muita vontade de ler esse sick-lit por causa dos personagens, afinal como você disse eles são a alma do livro. Acho muito interessante as personalidades e dificuldades deles porque acho que são aspectos um pouco esquecidos pela literatura.
    Agora fiquei com um pouco de medo de me decepcionar com a leitura, já que a autora meio que jiga fora o potencial de seus personagens.
    Também achei toda a arte da capa e o título muito forçados para se aproximar de Eleanor & Park. E achei desagradável; tirou a personalidade do livro.
    Ótima resenha.
    Beijos.
    Dois Dedos de Prosa.

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  4. Nossa, eu imaginava que esse livro era de outro jeito justamente pq forçaram a barra para se parecer com Eleanor&Park. Me parece mto bom, adoraria ler!
    https://livroarbitriodotco.wordpress.com/

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  5. Me parece bem interessante, pela capa nem sabia que era meio sick-lit. Mas não leria, não gosto de livros desse estilo. Você resenha mto bem e achei seu blog mt fofo *.*

    bjs
    http://serieslivroseafins.blogspot.com.br/

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  6. Olá
    Eu já tinha visto em alguns blogs sobre esse livro, mas cheguei a ler poucas resenhas dele, eu não costumo ler muitos sick lit, mas esse me pareceu ser bem interessante, ainda mais sabendo que os personagens são bem atrativos, só que o que me decepcionou foi a capa, pois como já disseram aqui, forçaram a barra para se parecer com Eleanor&Parker.
    Beijos

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  7. Não costumo gostar desses livros sick-lit, mas esse me interessou bastante! O modo como os personagens mudam a si próprios e um ao outro deve ser lindo de acompanhar, ainda mais por serem tão diferentes e mesmo assim formarem uma ligação entre eles. Fiquei curiosa pra ler e acho que seria uma experiência única pra mim, por se tratar de um enredo tão diferente e tão real ao mesmo tempo.
    Adorei a resenha!
    Beijos
    www.romanceseleituras.com

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  8. Oi, Gil.
    Eu adoro esse tipo de história, e os sick-lits estão estourados no momento, né?
    Sei lá, talvez o final desinteressante tenha me afastado um pouco da leitura (já havia ficado com um pé atrás após a crítica do Léo).
    Entretanto, os pontos positivos que você ressaltou me deixou bem curiosa quanto a leitura. É um livro que eu daria sim a chance, mas talvez futuramente.

    Beijocas,
    http://www.segredosentreamigas.com.br/

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  9. Giulia já fiquei com receio desse final "só isso" ficamos com uma sensação incompleta de leitura, uma pena a autora se perder no enredo com personagens com esse potencial, me chamou atenção Amy e sua vontade de ser independente e ajudar de certas maneira a todos. Vou ler devido aos personagens. beijos
    Joyce
    www.livrosencantos.com




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  10. Quando eu vi a capa desse livro eu relacionei logo com Eleanor & Park. Achei que estava indo longe nessa questão, mas ainda bem que você viu isso também. Sobre essa questão da autora se perder no enredo, acho que ela queria criar um grande obra, em páginas mesma, mas não tinha tanto pano pra mão. Uma história que poderia ser contado um 100 páginas. A autora esticou demais.
    Quero ler logo para tirar minhas próprias conclusões.

    Beijos, Giulia!

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  11. Ola
    Estou curiosa pela leitura desde o lançamento, a capa é linda e espero adorar o livro quando ler, de verdade, sua resenha está ótima e seu blog ta lindo, parabéns

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  12. Os sick-lits poderiam estar fazendo menos sucesso né? Não é um tipo de história que me atrai muito.. Mas é fato que algumas são muito emocionantes e super vale a pena ler. Não parece ser o caso.
    Como uma autora consegue estragar o enredo duas vezes? Eu passo totalmente..

    Beeeijinhos ;*
    Andressa - Mais que Livros

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  13. Então, eu já tinha visto outras resenhas e críticas parecidas sobre esse livro...
    Eu estava curiosa quanto a historia, queria ler o livro, pelo tema abordado, que é bem incomum, ou era. Mas aí comecei a ler as resenhas e vê o pessoal falando coisas bem parecida com o que você disse, sobre a decepção com o final da história, e o modo como a autora se perdeu.
    Isso realmente me desanimou, e acho que nem pela experiência eu o leria agora.

    Beijinhos
    Jaque - Meus Livros, Meu Mundo.

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