Memória da Água - Emmi Itäranta


Título: Memória da Água
Autor(a): Emmi Itäranta
Editora: Galera Record
Nº de páginas: 288
Onde comprar: Submarino | Saraiva | Americanas | Casas Bahia
Nota:

Num futuro distante, depois de muitas guerras, a Europa foi dominada pela China, e o bem mais precioso dos tempos antigos se tornou tão escasso quanto a liberdade. A água passou a ser controlada e distribuída em cotas pelos militares. Noria é filha de um mestre do chá, uma profissão muito antiga que tem conhecimento sobre a localização das nascentes de água. Ela está sendo treinada para substituir o pai, e dentre todos os ensinamentos, ele revela à filha seu maior segredo: uma fonte natural escondida que fornece água para a família. Desamparada em um mundo destruído, ela começa a questionar o significado de tamanho privilégio. Guardar esse segredo é negar ajuda ao restante de população, e ajudá-los é colocar em risco a própria vida: os militares punem severamente quem for descoberto desfrutando de alguma fonte ilegal de água. Como o pai a ensinou, é preciso ter sabedoria para compreender o verdadeiro poder da água. Mas Noria também aprendeu que a sabedoria representa, acima de tudo, o poder de decidir seu próprio destino, a escolha entre lutar e se entregar.

Sabe todas aquelas previsões catastróficas dos ambientalistas de que um dia as geleiras vão derreter, o mar vai invadir a terra e a água potável irá acabar? É nesse cenário que vive Noria. Seu pai é um mestre de chá, profissão de destaque nos vilarejos, mas, além de conhecer os segredos da arte do chá, também guarda outros segredos. Quando a água é um bem controlado pelo exército e sua família é a única que dispõe de uma fonte secreta, a luta entre a ética e a sobrevivência crescem dentro dela.

Gostei bastante da ambientação, tão atual devido às discussões sobre preservação do meio ambiente. As críticas presentes no enredo são as mesmas que fazemos hoje em dia - sociedade consumista, excesso de lixo gerado, uso demasiado de plástico, uso dos recursos naturais sem consciência -, e o resultado é o já previsto: aquecimento global, derretimento das geleiras, escassez de água.

Fiquei surpresa ao constatar que não havia romance no livro e que isso não fez a menor falta. O único relacionamento extrafamiliar importante para Noria é com Sanja, sua melhor amiga. A amizade delas é frágil, assombrada por segredos não compartilhados e palavras não ditas. No entanto, com a vivência, experiências e riscos, ambas amadurecem como pessoa, transformando também a relação e o futuro de cada uma.

Os segredos nos desgastam como a água desgasta as pedras. Na superfície, nada parece mudar, mas as coisas secretas nos consomem e, lentamente, nossas vidas passam a se moldar por elas.
Os segredos desgastam os laços entre as pessoas. Outras vezes, podem ajudar a construí-los: se deixamos uma pessoa adentrar o espaço secreto que o silêncio constrói dentro da gente, não ficamos mais solitários.

Sob o ponto de vista de Noria, perpassamos algumas questões que nos fazem refletir. Enquanto seus pais não se importam em morarem separados mesmo casados, Sanja faz de tudo pra manter sua família viva e saudável. O desapego de Noria é bem mais evidente que o da amiga, apesar do sentimento evidenciado. Em relação a isso, me identifiquei muito mais com Sanja, pois pra mim sentir e agir são ações bastante próximas.

Quando o livro chegou de ação, sabia muito pouco sobre ele e até evitei ler sinopses e resenhas. Demorou, mas peguei Memória da Água pra ler, esperando uma super leitura, mas faltou alguma coisinha. Alguns detalhes poderiam ser supridos pra dar mais dinâmica ao livro, sobrou descrição e faltou ação. Clímax mesmo só no final, e mesmo assim não chegou a me fazer prender a respiração. Senti falta de mais momentos tensos, reviravoltas e situações de prova.

A morte é amiga íntima da água. Não dá para separá-las, e também não é possível afastá-las das nossas vidas, porque representam, no sentido último, aquilo de que somos feitos: a versatilidade da água e a opressão da morte. A água não tem começo nem fim, e a morte tem ambos. A morte é o começo e o fim. Algumas vezes, ela viaja escondida na água, outras, a água afasta a morte, mas estão sempre juntas, no mundo e dentro de nós.

Além disso, uma coisa beeeem pessoal me afetou. Os militares, detentores dos recursos hídricos, agem com violência com qualquer pessoa que burle a lei. Não querendo entrar no mérito da ditadura, mas me sinto muito triste por falarem mal das forças armadas, ainda que em uma situação hipotética ou de outro país. É a minha instituição, literalmente visto a camisa, então não fico confortável com esse ataque. Mas, como disse, sei que isso é altamente subjetivo, intrínseco à minha pessoa.

O final não chega a ser aberto, mas me deixou com muitas interrogações, ansiando por respostas que não virão, já que é um livro único. Caso haja uma continuação, um spin-off ou algo assim, certamente vou ler pra entender tudo que acabou não acontecendo.

Eu normalmente viajo na interpretação das capas, e com essa não foi diferente. A princípio era só uma arte comum, mas depois da leitura enxerguei novos significados. Espero que vocês também tenham essa experiência. E ainda bem que mudaram esse fundo, porque, além de a modelo não parecer nem um pouco com a Noria, essa capa me remete a algo fantasioso, o que não é o caso. Palmas pra Galera! E pode ler tranquilo que a revisão está legal.

Memória da Água é uma distopia diferente, com elementos bem conhecidos dos fãs do gênero, mas com várias questões inovadoras. A autora teve uma ideia muito boa, conseguiu criar um cenário e questões diferentes e instigantes, mas deixou de aproveitar todo o potencial da história. Uma grande pena! Só me resta ficar na expectativa por novas obras da Emmi, torcendo pra elas tocarem mais fundo meu coração.


11 comentários

  1. Olá!
    Como não sou muito fã de distopias, esse é um livro que, infelizmente, não me chama a atenção. Então essa dica eu vou deixar passar...
    Ainda assim sua resenha está ótima, muito bem escrita!
    Beijos!

    www.livrosdajess.com

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  2. Olá!

    Adoro distopias, essa com certeza lerei, até porque esse futuro relatado não está tão distante assim, ainda mais pra mim, que vivo em SP... Excelente resenha!

    resenhaeoutrascoisas.blogspot.com

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  3. Olaaa
    Sua resenha está ótima e ouvi muitos elogios mas não chamou minha atenção por enquanto, talvez mais para frente eu leia.

    Beijos
    Reality of Books

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  4. Oiee.

    Nossa, mais uma distopia para a coleção. Eu as amo e com certeza vou ler essa.

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  5. Oi Guila...
    Acho que já tinha ouvido falar desse livro, e tinha me interessado. Imagino, só pela resenha, que a autora foi criativa na trama. Adorei o tema, e adoro distopia. Claro que gostaria de ler. Ótima dica.

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

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  6. Sabe uma coisa que me chateia muito? Conhecer uma boa história, porém mal aproveitada.
    Tinha me interessado por esse livro quando ele foi anunciado, mas vendo sua resenha, sei que ele não é para mim. Eu sempre sinto falta do romance! Por mais mínimo que seja.

    Beeeijinhos ;*
    Andressa - Mais que Livros

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  7. Oi Giulia,
    Q coisa, eu esperava mais do livro, a questão do ataque as forças amadas tb me incomodaria c certeza, sou q nem vc q esta a camisa, apesar do aspecto subjetivo do livro..
    E outra essa coisa de deixar final aberto me incomoda muitooo mais hahaha, gente n da p deixar leitor dormir virado na curiosidade não...
    Achei muito boa a tematica por ser uma distopia "possível" mas n sei se darei chance a ele não ..
    Bjos!
    Aline Praça
    www.leituravipblog.com

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  8. Meu Deus, preciso comentar uma coisa: GRAÇAS A DEUS mudaram essa capa, né? Porque que coisa mais macabra e de mal gosto é essa capa americana? CRUZCREDO, pelo amor de Deus. Pena que a autora não soube aproveitar bem o que tinha em mãos.

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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  9. Giulia, eu já havia visto esse livro em outro blog, mas a sua resenha me deu uma ideia melhor de como ele é. Agora estou na dúvida: leio ou não? Hahaha E preciso concordar com a Kel: A capa americana é muito macabra! Ainda bem que mudaram XD

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  10. Oi Giu... comparando as capas realmente a capa estrangeira tem algo mais sombrio nada contextualizado com o enredo apresentado na obra... pela primeira vez não fiquei com muita vontade de ler uma distopia...porém não descartei... porque a premissa é bem interessante e traz como temática algo em que estamos vivendo no momento... Xero!

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  11. Oi Giu! Eu ainda não li este livro, tenho a sensação que a história não é tão empolgante e agitada, pretendo ler até o final do ano, mas no momento não estou no clima. Saber que a autora tinha uma ótima ideia e não a desenvolveu bem, me deixou com menos expectativas ainda. Bjos!!!

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