A Namorada do Meu Amigo - Graciela Mayrink

Título: A Namorada do Meu Amigo
Autora: Graciela Mayrink
Editora: Novo Conceito


Quando voltou das férias de verão, Cadu não imaginava a confusão em que a sua vida se transformaria. Era para ser um ano normal, mas ele entrou em uma enrascada e está correndo o risco de perder a amizade do cara mais legal do mundo. O que fazer quando a namorada do seu amigo vira uma obsessão para você? Os churrascos da turma da faculdade talvez ajudem a esquecer Juliana, e, se depender do esforço do divertido Caveira, não faltarão garotas gente boa para preencher o coração de Cadu. Mas não adianta forçar... Quem consegue mandar no coração? Alice, a irmã de Beto, é só mais uma das dores de cabeça que Cadu tem que enfrentar. A vida inventa cada cilada!

Três amigos inseparáveis, que cresceram juntos e estão unidos pro que der e vier. Assim são Cadu, Beto e Caveira. Quando crianças, eram obrigados a conviver com Juliana (Juju para os mais chegados) e não suportavam a intromissão de uma pirralha nas suas brincadeiras de menino. Mas os Três Mosqueteiros tinham uma sombra, e ela cismava em ser o D'Artagnan. Juliana se mudou, passou quase toda a adolescência em outra cidade, tendo notícias dos meninos apenas por Alice, irmã de Beto, mas com 17 anos retornou pra arrasar corações. Aquela Juju chatinha se transformou em um mulherão e de cara fisgou o mulherengo Beto, que precisou mudar o comportamento para ser digno de namorar aquela beldade. Cadu estava viajando quando o amigo começou o namoro e mal acreditou quando ficou sabendo disso, afinal, a Juju era um pé no saco. Mas foi só voltar e ver a menina de costas (isso mesmo, mas depois eu volto a esse assunto) pra se apaixonar. E agora, Cadu? Lutar pela menina que ocupa seus pensamentos e desperta sentimentos desconhecidos ou manter a amizade de uma vida inteira?

Sentiram o drama, né? Por mais que fossem um trio, Beto sempre declarou que era mais chegado a Cadu do que a Caveira. E foi justamente pela namorada do melhor amigo que Cadu foi se apaixonar. Que enrascada! Pra piorar, Alice, que sempre se mostrou interessada no amigo do irmão, intensificou as investidas nele. Resumindo... Alice é doida pelo Cadu, que gosta da Juju, que namora o Beto, que é irmão, amigo e namorado, respectivamente. Entenderam?

E o Caveira nessa história? Ele é a parte mais consciente disso tudo. Primeiro porque percebe o climinha e é o único que sabe desse bafafá, depois porque tenta botar juízo na cabeça do amigo, pra que não dê uma de fura-olho. Pra me conquistar de vez, só faltou não ser um pegador de primeira.

O livro começa rápido, não enrola muito pra apresentar os personagens e o conflito. E praticamente ele todo mostra a dúvida de Cadu, suas investidas na Juju, sua culpa por ser um traíra e por aí vai. Justamente por focar na vida de Cadu, a narração foi feita em 1ª pessoa. Fiquei surpresa porque a Graciela fez um excelente trabalho dando voz a um homem; pelo menos pra mim não pareceu forçado nem feminino demais. Imagino que tenha sido um pouco trabalhoso não pensar como mulher e encarnar um jovem com os hormônios à flor da pele.

O tema amizade foi trabalhado tanto na ala masculina - o trio - quanto na feminina - Alice e Juju. Eu adorava as partes em que o Beto ia abrir o coração pro Cadu, contando com a amizade de anos, e o fura-olho ficava lá que nem dois de paus, sem saber o que dizer. Em relação às meninas, pra variar um pouquinho, adivinham por quem eu torci? Pela Alice, é claro! Toda vez que tem triângulos (ou quadrados, como aqui) eu torço pra "pessoa errada", pro coadjuvante. Alice dá de mil a zero na Juliana em simpatia, determinação, atitude e bom humor. deu pra ver que eu não fui com a cara da Juliana e queria que ela terminasse o livro sozinha chorando na cama, né?

Não há nada muito inédito na trama, tem isso aí que eu falei e só. Além desses 5 personagens, tem o pai do Cadu, a mãe do Caveira, os pais da Juju e mais meia dúzia de coadjuvantes que nem vêm ao caso, todos eles tendo aparições raras e com um pequeno desenvolvimento paralelo, mas sempre sob o ponto de vista do protagonista, obviamente.

A escrita da Graci é boa, tanto que li o livro em 1 dia só. De alguma forma, a história te prende, naquele esquema "vou ler só mais 1 capítulo" e quando vê já se passaram muitas e muitas páginas. Foi a minha primeira experiência com um livro dela, e posso dizer que gostei bastante, fez jus a tudo que ouvi de colegas que leram.

Um detalhe que teve nesse e sei que também estava em Até Eu Te Encontrar é o cenário. Ambas as histórias se passam em cidades do interior de Minas Gerais, o que foge totalmente do padrão capitais ou cidades mundo afora. Isso deixa um clima intimista, dá pra gente imaginar perfeitamente uma cidade pequena, com um ritmo de vida menos acelerado, lugares mais próximos uns dos outros... Foi muito bom sair da mesmice e passar algumas horas na fictícia Rio das Pitangas.

Mas o livro não foi de todo perfeito. O "instalove" me incomodou bastante! Cadu viu a menina de costas, DE COSTAS, e se apaixonou. Ele deve ter ficado encantado com o traseiro dela, só pode. Quem nessa Terra, pelamor, fica apaixonado (não é só a fim/interessado) por alguém só por ver a parte de trás do corpo de uma pessoa? Vai que a menina ficou feia depois que cresceu? E outra: lembram que eu falei que ele a achava chata? Ela devia ter uns 7, eles uns 10, e nessa idade qualquer diferencinha de idade faz toda a diferença no comportamento, ainda mais por se tratar de sexos distintos. Eles nem conversaram, não deu tempo de ele desfazer a imagem de pirralha cricri que tinha dela, ele sabia que era namorada do amigo, e mesmo assim ele se apaixonou por ela no instante em que a viu... de costas! Essa parte foi bem difícil de engolir, não consegui entender tamanha rapidez mesmo!
Quando estive com a Graci, comentei isso porque sou dessas que falo mesmo, e ela disse que fez assim pra justificar um pouco o sentimento, que se não fosse desse jeito seria uma canalhice ainda maior (como se já não fosse) do Cadu com o Beto; esse amor instantâneo foi impossível de evitar, mais forte do que ele podia controlar. Não me convenceu muito, mas achei legal trazer pra vocês saberem o lado da autora também.

O final também não foi dos melhores. Eu esperava algo mais bombástico, mas ficou um pouco morno e totalmente aberto. Não há uma definição, você fica sem saber o que realmente aconteceu e meio que rola um "Você Decide", o que achar mais legal coloca depois da última página e aí está o seu final. Às vezes até gosto de finais abertos, mas nesse livro fiquei incomodada porque queria saber de fato o que aconteceu com Cadu, Beto e Juju, as consequências duradouras dessa rivalidade entre amigos. E, segundo a Graci, se for pra eu querer final fechado é pra desistir dos livros dela, porque é uma característica pessoal e sempre terá nas suas obras. Tô lascada, meu povo! kkkkkkkkkk

Gostei da neutralidade da capa. Ao mesmo tempo que dá a entender que é um romance, não tem aquelas frescurinhas de menina, afinal, o livro é narrado por um homem e trata principalmente da amizade masculina. Revisão legal, diagramação ok... Bom trabalho, Novo Conceito!

A Namorada do Meu Amigo foi uma leitura leve, de boas risadas, personagens críveis e volta à época de adolescência. Uma boa pedida pra quando a gente precisa distrair a cabeça e embarcar em aventuras amorosas.