Easy - Tammara Webber

Título: Easy (Contornos do Coração #1)
Autora: Tammara Webber
Editora: Verus


Quando Jacqueline segue o namorado de longa data para a faculdade que ele escolheu, a última coisa que ela espera é levar um fora no segundo ano. Depois de duas semanas em estado de choque, ela acorda para sua nova realidade: ela está solteira, frequentando uma universidade que nunca quis, ignorada por seu antigo círculo de amigos e, pela primeira vez na vida, quase repetindo em uma matéria. Ao sair de uma festa sozinha, Jacqueline é atacada por um colega de seu ex. Salva por um cara lindo e misterioso que parece estar no lugar certo na hora certa, ela só quer esquecer aquela noite — mas Lucas, o cara que a ajudou, agora parece estar em todos os lugares. A atração entre eles é intensa. No entanto, os segredos que Lucas esconde ameaçam separá-los. Mas eles vão ter de descobrir que somente juntos podem lutar contra a dor e a culpa, enfrentar a verdade — e encontrar o poder inesperado do amor.

Comecei a ler Easy logo depois que terminei Hopeless, e não poderia ter feito melhor escolha. Um new adult que extrapola a simples leitura e nos leva a reflexões e discussões muito mais profundas.

A sinopse resume bem a história do livro, então não irei comentar muito sobre isso. Vou me ater a falar dos personagens, do problema envolvido no enredo e das minhas impressões durante a leitura.
O livro já começa tenso, com a cena do quase estupro de Jackie. De cara, a autora lança o fio condutor de toda a história, descrevendo sob a ótica da vítima um dos momentos mais temidos por uma mulher - pelo menos eu sempre tenho agonia quando ouço relatos, vejo cenas da ficção ou leio sobre isso e oro pra que nunca aconteça comigo. Mas infelizmente muitas mulheres sofrem com esse tipo de violência.

Antes que essa resenha vire um desabafo sobre a "cultura do estupro", voltemos à narração. Li algumas críticas dizendo que essa discussão foi abafada pelo romance, mas eu não senti isso, pelo contrário, o romance deu destaque ao assunto. Jackie conhece Lucas quando ele a salva de um colega bêbado tentando estuprá-la no estacionamento vazio depois de uma festa. Ela sequer sabia seu nome, ele tentou convencê-la a fazer a denúncia, mas ficou por isso mesmo.

O tal colega inventou uma história pra surra que levou e continuou ameaçando. E Jackie cultivava medo, raiva, angústia, todos os sentimentos ruins. Até que uma colega também virou vítima, e aí a coisa mudou de figura.

Eu poderia culpar o álcool... Mas não. Álcool remove inibições. Ele não dispara a violência criminal onde não havia antes.

Além de toda essa pressão, Jackie ainda precisava lidar com o coração. Recentemente tinha sido abandonada pelo namorado de anos, pelo qual abriu mão de suas vontades e se mudou para cursar a faculdade. Agora estava encantada com o bad boy que a salvou e com seu tutor da matéria em que estava quase reprovando.

O romance aconteceu devagar, e confesso que fiquei um pouco incomodada com a lerdeza de Jackie. O mundo inteiro percebendo a situação e ela dando uma de desentendida. E depois que descobriu, ainda ficou de mimimi. Por isso tirei a meia estrela, a protagonista não me conquistou totalmente.

Já Lucas é um lindo, mas não só pela aparência, mas por todo o cuidado, atenção e carinho dedicados a Jackie. Ele guarda um segredo complicado, eu não imaginei que o buraco fosse tão embaixo assim. Os traumas que marcaram sua vida justificam suas atitudes, e ele foi até bem forte, muitos teriam se fechado mais ou agido de maneira surpreendentemente negativa.

Fiquei inquieta com a noção de que Lucas era alguém para quem eu poderia ir, antes de perceber que ele era a minha zona de segurança desde o momento em que tínhamos nos conhecido.

A culpa permeia toda a história, torturando vários personagens. Não vou detalhar muito pra não soltar spoilers, mas a vítima sempre se sentia culpada por algo. Tammara expôs esse sentimento ao mesmo tempo que frisava a inocência de quem sofre com o estupro, direta ou indiretamente. Em vários momentos percebemos o destaque ao discurso "a culpa não é sua" feito por diversos personagens. A autora também mostrou o lado "sujo", daqueles que acham que a mulher é culpada pela roupa que veste, pelo comportamento promíscuo, pelo caminho onde anda - e essas partes me deixaram com raiva, porque sabemos que realmente há pessoas com esse tipo de pensamento nojento.

Talvez nunca lhe tivesse ocorrido que seu melhor amigo fosse capaz de destruir a autoconfiança de uma garota em menos de cinco minutos. Que fosse capaz de machucar uma pessoa inocente para se vingar de um rival. Que pudesse violar o corpo dessa pessoa na tentativa distorcida de superar a própria impotência. Que fosse capaz de fazer com que ela se sentisse constantemente ameaçada e não dar a mínima importância para isso.

Há alguns clichês, mas não ganham tanto destaque assim que cheguem a desviar a atenção do assunto principal. Gostei muito do enredo e da narrativa em 1ª pessoa (voz de Jackie), que nos permitiu entrar no mundinho de uma menina com problemas amorosos que precisa enfrentar mais uma barra - e das pesadas.

Tammara Webber fez um excelente trabalho, utilizando um romance - gênero voltado ao público feminino - para dar um alerta. Se alguma leitora tiver vivido esse inferno, provavelmente irá se reconhecer na Jackie. Para as outras leitoras, há a massificação de que a culpa em momento algum é da vítima, especialmente porque muitas mulheres têm o pensamento machista e retrógrado, condenando as colegas que foram violentadas. E pros homens nunca é demais lembrar que a mulher é fisicamente mais fraca e uma atitude como essa pode destruir a vida dela pra sempre.

A capa segue a original, não tenho nada a dizer de especial sobre ela, assim como a respeito da diagramação. A revisão foi meio lá, meio cá, mas deu pra levar numa boa.

A explicação para o título vem na última linha, então não fiquem ansiosos; já basta o desespero pra ler Breakable, a mesma história na versão do Lucas. Aproveitando pra lembrar pra galera de Rio, SP e BH: a autora vem ao Brasil mês que vem, e eu estarei na fila pra pegar autógrafo, se Deus quiser.